quarta-feira, 2 de abril de 2014

Falta luz após 50 anos do golpe

*Por Cristovam Buarque
Em 31 de março, fez 50 anos do golpe militar no país, quando eu tinha 20 anos. Foi de repente e fizeram a escuridão no Brasil. Foram 21 anos de gritos, de negociações, de conversas, de manifestações, até que, um dia, o grito fez o dia, e a luz apareceu.
Mas a luz não apareceu para 13 milhões de analfabetos, que continuam em uma forma de escuridão. Não são torturados fisicamente, mas são torturados intelectualmente cada segundo em que estão despertos no dia a dia da vida.
A luz não chegou para as mães carregando os seus filhos em portas de hospitais, à espera de um médico; para dois terços de nossos jovens, 40 milhões, que hoje estão matriculados em pseudoescolas e que vão concluir, um terço apenas, o ensino médio de má qualidade. 
A luz não chegou para 50 mil vítimas de assassinatos no Brasil, talvez um milhão desde que a luz apareceu, mas nós não conseguimos fazer um país pacífico.
Nós não podemos dizer que a luz chegou para milhões ainda de brasileiros que perambulam no campo sem trabalho sobre terras com donos que não usam a terra. Não chegou, ainda, para 52 milhões de brasileiros que, felizmente, graças à luz, hoje têm uma bolsa família, mas que são condenados a viverem de bolsa família.
Ainda não fizemos a luz para milhões de meninas e meninos explorados sexualmente, vítimas da exploração sexual; para mulheres assassinadas pela violência dos maridos, irmãos, parentes ou até de pessoas na rua. Nós não fizemos ainda a paz de uma distribuição equitativa da renda.
Depois de 50 anos do golpe militar ainda há tanto por fazer.
*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

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