Que em período de campanha eleitoral acontecem coisas inimagináveis, isso o povo vê com os próprios olhos, quando a criatividade toma conta das redes sociais e das manifestações populares. É só começar o ano eleitoral, que os tabuleiros de xadrez de diversos governos pegam fogo com as movimentações das peças, principalmente quando se aproxima a data das eleições. Muitas gestões têm aplicado bastante a tática do filósofo Nicolau Maquiavel, que dentre tantos conselhos, orienta: “Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda”. Pessoas ativistas em redes sociais e que chamam a atenção por suas críticas políticas, de repente passam a integrar cargos comissionados, que por nomeação, são legitimadas como membros de governo.
O que será que está acontecendo com a política? Será que o que está havendo é a aplicação de outro ensinamento de Maquiavel onde o filósofo defende a ideia: “aos amigos, favores, aos inimigos, a lei”? Mas para isso, estaria se tratando os inimigos como amigos. No entanto, essa ilusão de amizade vinda de gente com conduta de oposição, marcada por perfil de ataque, nenhum governo tem. O que se vê é apenas o uso da estratégia de silenciar os opositores, sobretudo nesse momento eleitoral. Ao fazer o rival pertencer ao governo, depois que for descartado, este não terá nenhuma moral para criticar, ou estaria cuspindo no prato que comeu.
Mas no frigir dos ovos, como estão estruturados muitos governos baianos? Núcleos de poder formados, em grande parte, por um monte de gente inimiga e silenciada. Isso abre um precedente para pensar a política destes tempos ditos “ultramodernos”, como algo constituído pelo simples desejo do poder pelo poder em si mesmo. Política esta, exercida com práticas bem antigas.
Porém, se analisarmos a política pelo princípio ético do bem comum, a serviço da expressão da vontade geral, é possível entender que nenhuma estrutura de poder formada nos moldes do centro rodeado de inimigos, será capaz de realizar uma transformação profunda e verdadeira para melhorar uma sociedade. Apenas se estará replicando a velha demagogia onde “todos os outros são ruins, e apenas nós é quem somos capazes de realizar os sonho do nosso povo”. O fato é que o povo já está cansado dessa narrativa.
Definitivamente, é preciso substituir o quadro dos urubus disputando e comendo carniça, como se vêem atuais estruturas de poder, pela obra da Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, que retrata a Academia de Platão, ao expressar um dos pontos altos da vida intelectual da Grécia Antiga, a representação para as diferentes formas de conhecimento.
Enquanto os governos não moldarem suas estruturas pelo saber, atraindo tão somente pessoas pela vontade pura de poder, os governados serão conduzidos por sociopatas que derruirão tudo e a todos que estiverem pelo caminho, como verdadeiros déspotas, traidores do povo. Mas eis que entre o céu e a Terra, existem mais coisas do que pode supor a nossa vão filosofia, como nos ensinou Shakespeare. Então, que essas coisas existentes possam ser muito boas para nós todos, reles mortais no mundo, rumo à vida eterna.
Postado no https://reclameboca.com.br/politica/mantenha-seus-inimigos-mais-perto-principio-de-maquiavel-e-aplicado-em-governos-durante-campanhas/
Por Lucy Cassi
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