Cristovam Buarque*
O
atleta olímpico recebe a medalha para si, mas leva a bandeira do seu país. O reconhecimento
ao seu esforço e talento permite-lhe futuros benefícios pessoais, mas na
vitória é também uma reverência a todos os seus compatriotas. O pódio é uma
escada ao sucesso pessoal do medalhista e também uma alavanca ao prestígio de
seu país.
O ensino superior deveria
seguir regras parecidas: ser escada social para os jovens e alavanca para o
progresso. Graças ao curso, o aluno formado receberá prestígio e remuneração
por toda a vida e com seu conhecimento ajudará a formar uma sociedade desenvolvida
e justa. A universidade deve ser gratuita para aqueles que tiverem talento para
a profissão e escolherem um curso que sirva ao progresso econômico e social.
O aspirante na academia
militar estuda gratuitamente porque aprende a defender a Nação; o aluno da carreira
diplomática estuda para estreitar nossas relações internacionais; da mesma
forma, o jovem que deseja ser professor do ensino médio estuda para formar
cidadãos e construir o Brasil. São cursos e carreiras de interesse nacional e
por isso devem ser financiados pelos governos.
O critério para a
gratuidade ou o pagamento deve ser o interesse nacional, não a renda pessoal ou
familiar do estudante. Não há razão para uma família rica ter de pagar os
estudos de um filho se ele quer ser cientista, para ajudar a conhecer o mundo e
até encontrar o mistério da cura para doenças; ou se quer ser médico para
atender à saúde pública; ser filósofo, historiador, matemático ou artista, para
enriquecer o mundo culturalmente.
Da mesma forma, quando há
limites de recursos públicos, a sociedade não precisa pagar cursos que servem
apenas como escada social, sem a característica de ser alavanca do progresso. Mesmo
que a carreira seja apenas do interesse privado, o Estado não tem o direito de
impedir uma pessoa de seguir o curso para o qual tem vocação, mas não deve ter
obrigação de financiar este curso com recursos públicos que devem atender a
outras prioridades, como a educação de base.
O atleta que não carrega
a bandeira do seu país deve ter direito de se preparar, mas não há razão para
exigir investimento público no seu treinamento. Para atender o gosto apenas do
atleta que não carrega a bandeira ou do aluno que não tem compromisso com o
desenvolvimento e bem-estar da nação, o país e seu povo não precisam pagar.
Para ser gratuito, o curso universitário deve ser ao mesmo tempo escada pessoal
e alavanca social ao progresso socioeconômico.
O governo deve bancar o
estudo de todas as crianças, porque cada uma delas representa em si um
potencial, também deve dar-lhe, na escola, a chance de ser um atleta. A partir
de um certo momento deve concentrar os recursos nos mais talentosos e nos cursos
que levem o país e seu povo a um futuro eficiente e justo e carregue nossa
bandeira.
*Professor Emérito da UnB e senador
pelo PPS-DF
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