segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ciro fala da corrida presidencial


Correio Braziliense

Entrevista publicada no Correio Braziliense, em 25 de junho de 2009

Em entrevista exclusiva ao Correio, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não esconde a vontade de disputar a Presidência da República, mas não fecha a porta para concorrer ao governo de São Paulo nem a uma vaga de vice na chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Hoje, Ciro está confortavelmente instalado na posição de curinga da base de Lula e ainda tem uma avenida aberta para o PSDB, caso seu amigo Aécio Neves, governador de Minas Gerais, seja candidato ao Palácio do Planalto.

Aécio Neves, se candidato, põe em risco sério a estratégia daqueles que estão ao lado do governo Lula”, diz Ciro, que se define como alguém que tem boas relações com a maioria esmagadora dos tucanos. O raciocínio do pré-candidato socialista é de uma lógica matemática acoplada à política: Aécio, com o apoio de José Serra, empataria o jogo com o PT em São Paulo, sai com Minas Gerais fechada em torno da sua candidatura e ainda tem espaço no Nordeste, no Norte e no Sul.

Se ele vier para o PSB, é o meu candidato, afirma o socialista. O PSB, de sua parte, não tem esperanças a respeito da filiação de Aécio e, a partir de julho, deflagra uma série de conversas para ver se Ciro vai ou não para o horário eleitoral gratuito como candidato a presidente ou se prefere selar desde já um acordo com o PT e definir os palanques estaduais. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O que o empolga mais? A candidatura a governador de São Paulo ou à Presidência da República?

O que me empolga hoje na política é muito pouca coisa. Estou completando 30 anos de vida pública, felizmente uma vida pública decente, dedicada a resgatar com muita responsabilidade a confiança que as pessoas me deram generosamente ao longo desse tempo. E me preparo para ser candidato a presidente do Brasil. Francamente, nunca esteve na minha cogitação disputar o governo de São Paulo, mas algumas pessoas por quem eu tenho muito respeito — por exemplo, os deputados Márcio França (PSB-SP), Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Cândido Vaccarezza (SP, líder do PT na Câmara) — têm me pedido para pensar sobre esse assunto. O que eu preciso é ver respondida a pergunta: a que serve esse desafio?

E a que o senhor acha que serve esse desafio?

Consigo ver duas correntes contraditórias colocando esse assunto na pauta: uma é de pessoas que, abusando da inteligência dos amigos, mas mais do que isso, desrespeitando a gente valorosa de São Paulo, deseja fazer esse movimento para me tirar do caminho da disputa presidencial.

O senhor pode dar nome aos bois?

Ainda não, mas, proximamente, quando terminar de separar o joio do trigo, serei capaz de fazê-lo. Aqueles que mencionei estão de boa-fé, pensando que é hora de se oferecer uma coisa nova ao debate em São Paulo. Um mesmo grupo administra São Paulo e os problemas se agravam em todos os ângulos. Não há um projeto estratégico. As pessoas acham que posso dar uma contribuição a esse pedaço importante do Brasil que é São Paulo. Fico honrado, mas é um desafio grande demais para tomar uma decisão sem amadurecer muito.

Na hipótese de fracassar o plano A ou o plano B de governo paulista, o senhor aceitaria ser vice da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff?

A ministra tem todas as virtudes, qualidades e valores que um brasileiro de primeira linha possa ter. Trabalhamos juntos na pequena equipe que coordenou o enfrentamento da tentativa de golpe que se fez contra o Lula, a pretexto daquela desgraça que aconteceu, do chamado mensalão. Tenho por ela imensa afeição, estima e respeito. Mas ninguém é candidato a vice. Você pode desejar, comunicar a seus companheiros de partido, de base política, o desejo de participar do processo. Mas nem mesmo candidato você pode querer ser. Sonho em servir ao Brasil como seu presidente.

Como o senhor vai fazer para arrancar uma candidatura presidencial num partido tão ligado ao governo Lula?

Não vou de forma nenhuma. Pelo contrário. Estou pronto para aproveitar o que me resta de juventude na vida pessoal. A instrução que tenho do partido é para preparar uma candidatura à Presidência. Há muita intriga, futrica, normais nesse período. Mas entre nós há muita seriedade. O presidente Eduardo Campos não é Roberto Freire. É uma pessoa transparente, líder natural do partido, que não precisa de expedientes traiçoeiros, como aqueles que experimentei no PPS.

Por que tanta mágoa de Freire?

Não é mágoa. Estou fazendo uma crítica política. Tenho pena dele.

O senhor tem alguma mágoa dos tucanos?

Não me movimento por mágoa. Tenho uma crítica azeda com relação à traição de um grupo que se reuniu ao redor da ética, da social democracia, da justiça social. Vai para o poder, o povo acredita, dá a nós essa faculdade, eles jogam tudo na lata do lixo e fazem o oposto. É uma indignação muito grande. Amizade tenho com Geraldo Alckmin, que não foi ministro do Fernando Henrique, era muito amigo do Mário Covas, do Franco Montoro. Sou muito
amigo do Aécio Neves (governador de Minas). Você já me viu
falar alguma coisa azeda com Aécio? Sou amigo, irmão, do Tasso Jereissati (senador pelo Ceará).

E se Aécio for o candidato? Como o senhor vai fazer? Seu partido vai com ele?

Política a gente faz por responsabilidade. Se ele for candidato pelo PSDB, está tudo o que eu falei politicamente aqui valendo. Se for pelo PSB, é o meu candidato.

Mas se ele for pelo PSDB, não enfraquece a sua candidatura no PSB?

Meu cálculo hoje é que o Aécio, candidato pelo PSDB, põe em risco sério a estratégia dos que estão nesse campo sob a liderança do presidente Lula. Acho que ele tem uma entrada nacional muito mais forte do que o Serra, potencialmente, coisas que as pesquisas não deixam as pessoas lerem direito, porque são muito manipuladas nesse momento. Como eu vejo: se o Serra for candidato à reeleição em São Paulo, apoiando Aécio, São Paulo fica neutralizado na sucessão federal. Daí para frente, Aécio tem 80% de Minas Gerais, entra com muito mais facilidade na Amazônia, no Nordeste e no Rio do que o Serra. E o grande embate no Sul hoje é hostil ao Lula. O que mostra que o Aécio é um candidato muito mais viável para nos derrotar do que o Serra.

Ele leva o PSB?

Não sei.

Só o tempo vai dizer?

Não é provável. O PSB faz parte do arco de sustentação do governo do presidente Lula. Se (Aécio) for candidato da coalizão (PSDB-DEM), fez acordo com o Serra, que irá exigir certas questões.

O que o senhor vai trazer de novo se for candidato?

O avanço é tão expressivo que não há mais necessidade de dar centralidade como foi em outras campanhas. Eu paguei um preço muito amargo porque quis falar com franqueza para a população. Acabou que o Lula virou, com aquela carta aos brasileiros, o moderado, e eu é que era o incendiário. Essa fase passou.

E o Ciro destemperado? Passou?

Você não tem uma prova sequer de eu fazendo um xingamento pessoal a ninguém. Engraçado é que a versão se reproduz e tal. Eu sou uma pessoa indignada. Não sou filho da aristocracia, não venho do poder econômico. Sempre construí essa participação no processo com as unhas. Errei muito porque não tinha manual.

Qual foi o maior erro que o senhor acha que cometeu?
Os mais graves foram na campanha de 2002. Piada machista, de mau gosto, que acaba sendo uma reprodução da cultura machista na qual eu fui criado. Eu felizmente pude ver, pedir desculpas e aprender com essa amargura. Foi um erro amargo. Botavam as cascas de banana, e eu botava os dois pés. Eu não gosto dessa malícia. Você acha que eu não seria capaz de, com a experiência que adquiri, de enganar todo mundo e fazer carinha de bom moço? O que eu sou é decente. Estou na vida pública porque gosto. Agora, sou indignado. Se alguém quer alguém que seja uma gosma, que não tem sentimentos, que tem aquele olho de vidro, de cobra, procure outro.

Um comentário:

  1. Ciro não precisa ir para São Paulo, precisamos dele para servir o Brasil.
    Os últimos acontecimentos e as pesquisas mostram que uma composição entre Ciro e Aécio põe em cheque a eleição da ministra Dilma.
    A postura do PT de se compor, incondicionalmente, com o PMDB de Sarney, Renan Calheiros e outros que representam o que há de mais sujo na política brasileira, levam os partidos progressistas, ditos de esquerda, buscarem outro palanque nacional . A saída dos aliados históricos para o outro palanque, poderá derrubar, nas urnas, o sonho de Lula de fazer da ministra, sua sucessora na Presidência da República do Brasil.
    Os movimento sociais reconhecem as conquistas obtidas no governo Lula e querem seguir construindo uma nação mais justa. No entanto, estão receosos com esta turma de aloprados que querem mesmo é manter-se no poder

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