Atarde On Line
Lucas Leal
Fernando Vivas | Arquivo | Ag. A TARDE
Retrato de uma realidade que nem sempre se reflete nas urnas - a
exemplo do que aconteceu em 2006, quando Jaques Wagner (PT) contrariou
os números e derrotou Paulo Souto, do PFL -, a pesquisa eleitoral tem se
consolidado como um instrumento cada vez mais forte de propaganda
política. Apesar da escassez de levantamentos em Salvador - até agora
foram divulgados quatro -, hoje os partidos políticos utilizam a
pesquisa não apenas para nortear suas campanhas.
"Pesquisas têm se transformado em atores políticos centrais", alerta
Paulo Fábio Datas Neto, cientista político e professor da Universidade
Federal da Bahia (Ufba). Ele afirma que muitas vezes os números aferidos
têm sido utilizados para propaganda, em vez de representarem elementos
que definam subsídios aos discursos.
Desde a última quinta-feira, quando pesquisa do Ibope identificou o
avanço do candidato petista Nelson Pelegrino, que passou de 16% para 27%
nas intenções de voto, os marqueteiros da coligação Todos Juntos por
Salvador têm investido na veiculação do desempenho com clichês como a
"hora da virada". Apesar de o democrata ACM Neto permanecer na
dianteira com 40% das intenções de voto, o marketing político de PT tem
explorado bem mais o resultado. No horário político, os índices de
crescimento do candidato são repetidos à exaustão. No portal da
coligação petista, o marketing se repete: "Pelegrino é o único que
cresce nas pesquisas".
Radares - A utilização do recurso confirma que a
pesquisa eleitoral é muito mais um instrumento de trabalho dos
profissionais envolvidos na campanha eleitoral do que um subsídio para o
eleitor. Elas servem para detectar as preferências das pessoas, seus
níveis de engajamento, sentimentos e disposições no período de corrida
eleitoral, analisam os especialistas. "Os resultados das pesquisas
servem como radares para as coordenações dos partidos", explica Wilson
Gomes, doutor em filosofia, professor da Ufba e pesquisador.
Resultado nas urnas contrariou pesquisas em 2006
Em 2006, contrariando as pesquisas eleitorais, Jaques Wagner (PT) foi
eleito governador da Bahia no primeiro turno, derrotando o então
adversário Paulo Souto (PFL). Na ocasião, o petista se elegeu com 52,89%
dos votos válidos e superou o então governador Paulo Souto (PFL), que
ficou em segundo lugar, com 43,03%. O curioso é que Wagner apareceu
atrás de Souto em todas as pesquisas de intenção de voto ao longo da
campanha. Para o coordenador da área de pesquisas de opinião pública e
políticas do Ibope, Hélio Gastaldi, o resultado das urnas não foi
surpresa. “Wagner apresentava um bom crescimento ao longo das pesquisas e
confirmou isso nas eleições”, avalia.
Gastaldi afirma que as pesquisas eleitorais refletem apenas o momento
em que foram realizadas. “Para definir uma tendência do eleitorado, é
preciso realizar uma série e compará-la”, alerta. José Carlos Martins
Leite, sócio-diretor da Potencial Pesquisas, concorda: “O fenômeno
político é muito instável”.
Toda pesquisa divulgada segue a legislação estabelecida pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), conforme a Resolução 23.364/11. Empresas que
fazem os levantamentos têm de registrar na Justiça Eleitoral, com mínimo
de cinco dias de antecedência, a data de divulgação, contratante,
recursos despendidos, metodologia e período de realização. Pesquisas sem
registro prévio podem resultar em multas de até R$ 106.410.
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