SÃO PAULO - "Minha primeira
atitude foi cobrir a minha filha com todo o amor que eu tenho." Foi desta
forma que a mãe da estudante de 12 anos,estuprada por outros três
adolescentes dentro do banheiro de uma escolaestadual no Jardim
Miriam, na zona sul de São Paulo, reagiu aos pedidos de desculpa da menina ao
dizer para a família que havia sido vítima de um ataque sexual que durou 50
minutos.
"Ela só me pedia desculpas e se
sentia muito culpada pelo que tinha acontecido com ela. Nós da família estamos
sofrendo muito, mas quem fecha os olhos e se lembra de tudo o que acontece é
ela, por isso vamos continuar dando todo o nosso amor para que ela volte ser
contagiada por sentimentos bons", disse a mãe da vítima.
A aluna da 7ª série do ensino
fundamental da Escola Estadual Leonor Quadros foi estuprada na tarde do último
dia 12. Nos dias seguintes ao ataque, um dos adolescentes que participou da
agressão sexual, ainda procurou a menina no Facebook.
Caso aconteceu dentro de uma escola
na zona sul de São Paulo Daniel Teixeira/Estadão
Caso aconteceu dentro de uma escola
na zona sul de São Paulo
"Ele mandou uma mensagem dizendo
que não tinha sido ele. Minha filha ainda teve o sangue frio de responder,
falando que olhou nos olhos dele e sabia muito bem o que o menino tinha
feito."
Filha de família evangélica, a
estudante fazia aulas de break na igreja que a família frequenta, além de
participar de um grupo de dança de rua. Caseira, a menina gostava de ouvir
música, assistir a programas de culinária e tinha o sonho de ser
psicóloga.
"Meu medo é que tenham tirado o
brilho da minha filha. Ela é apenas uma criança linda, sem maldade nenhuma e
que agora passa o dia na cama sentindo os efeitos colaterais dos remédios que
precisa tomar. O corpo dela ainda é muito frágil para tanto medicamento",
contou a mãe. Por um mês, a menina, que até então era virgem, terá que ingerir
coquetéis para não engravidar ou pegar doenças sexualmente
transmissíveis.
Após ser estuprada, a vítima saiu do
banheiro masculino por um portão que dá acesso ao pátio e procurou um inspetor.
Segundo a mãe, o funcionário achou que a menina estivesse cabulando aula e a
fez aguardar no local. "Nessa hora, ela desmaiou e só então a escola teve
noção do que tinha acontecido." A jovem foi colocada dentro de um
ambulância do Serviço de Atendimento Médico Ambulatorial (Samu).
Primeiro, foi levada ao Hospital
Municipal Doutor Arthur Saboya, no Jabaquara, também na zona sul, para só
depois ser encaminhada para o Hospital Pérola Byington, na região central,
especializado no atendimento às vítimas de violência sexual. O caso foi
registrado no 78º Distrito Policial (Jardins), o mais próximo da unidade de
saúde e, em seguida, encaminhado para o 97º DP (Imigrantes), que é responsável
pela investigação.
A Secretaria de Estado da Educação
disse que abriu uma "apuração preliminar para averiguar a conduta da
direção da escola". Para a mãe, a unidade de ensino foi omissa. "Eles
tinham que ter acreditado nela na hora e chamado a polícia. Se o estupro não
tivesse saído na imprensa, o caso não estaria sendo esclarecido com a mesma
velocidade dos último dias. Bastava alguém ligar para o 190."
Vulnerável. Apenas um dos
adolescentes conhecia a vítima. Segundo a mãe, a filha disse que foi ele quem
liderou o ataque e incentivou outros dois jovens a participarem do estupro.
"Eles tiraram toda a roupa dela. Nessa quase uma hora que ela ficou no
banheiro, em nenhum momento ela desmaiou. Infelizmente ela se lembra de tudo o
que aconteceu." Os adolescente faziam uma espécie de revezamento. Enquanto
um segurava a porta, outros dois estupravam a menina.
No dia seguinte, a estudante ainda
teve de voltar à escola. O diretor da unidade mostrou fotos dos meninos. A
vítima reconheceu na hora, teve uma crise de choro e foi levada para casa
imediatamente pela mãe e por um tio. Nesta terça-feira, 19, a jovem foi ao 97º
DP prestar depoimento pela primeira vez. No local, ela fez o reconhecimento
fotográfico de um dos adolescentes. Os policiais precisaram deixar os dois em
ambientes separados, já que o menor chegou à delegacia enquanto a estudante
ainda estava no local.
Nesta quarta-feira, 20, a Polícia
Civil deve encaminhar um inquérito para a Vara da Infância e Juventude, órgão
responsável por pedir a internação dos adolescentes na Fundação Casa. O laudo
médico comprovou que a estudante ficou com ferimentos na região da vagina.
Pouco antes do caso ser divulgado, um dos menores se mudou com a família e até
agora não foi localizado.
Material cedido por Estadão.
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