*Por Cristovam Buarque
O debate político brasileiro está dominado por
duas visões maniqueístas: uns não percebem os custos institucionais da
derrubada de uma presidente eleita, mesmo dentro da Constituição, nem os riscos
dos anos seguintes, mesmo com novo presidente; outros ignoram o esgotamento da
credibilidade do atual governo e sua presidente, desmoralizada por falsas
promessas, incompetência na gestão da economia e contaminação pela corrupção ao
redor. Ambas visões não percebem os riscos de o Brasil ingressar em um período
de decadência, seja em função da continuidade de um governo que já nasceu
condenado por seus erros, seja devido a um governo com um nome novo mas sem
novidade para os rumos do Brasil.
Este debate imediatista está custando ao
Brasil não enfrentar os grandes desafios de um país que, mais uma vez, perde a
chance de usar seu maior recurso, sua população educada, para fazer-se uma
nação eficiente, justa, democrática, com protagonismo no cenário mundial.
No lugar de avançar, entendendo a realidade
do mundo global (economia baseada no conhecimento, limites ao crescimento,
cooperação entre setores público e privado, fontes alternativas de energia,
responsabilidade fiscal), continuamos no velho modelo — protecionismo fiscal à
indústria, desprezo à inovação, consumo em vez de poupança e investimento,
ocupação depredadora do território, antagonismo entre Estado e setor privado,
governos quebrados. Em consequência, no lugar de enfrentarmos a crise, estamos
caminhando para uma decadência histórica.
As indicações dessa decadência estão na
violência generalizada que já começa a desagregar o tecido social brasileiro;
está em uma política sem partidos, sem propósitos, sem ética, onde a juventude
não vê políticos como líderes admirados, mas como aproveitadores de recursos
públicos; está em uma economia que se desindustrializa, sem dar os passos para
um PIB baseado na alta tecnologia, sem competitividade, produtividade e
capacidade de inovação; está nas finanças públicas condenadas pela própria
Constituição a gigantescos déficits provocados por gastos com o passado: os
pobres que não emancipamos, um sistema de aposentadoria insustentável, uma
dívida financeira impagável; um país sem recursos financeiros para construir
seu futuro.
Cada um destes problemas exige reformas
profundas, mas todos eles dependem de educação de qualidade para todos. Por
isso, ao assistirmos ao debate atual entre impeachmistas e antiimpeachmistas,
vale a pena lembrar o que disse James Carville, chefe da assessoria do então
candidato Bill Clinton, ao interromper a discussão entre assessores sobre qual
era o principal problema dos EUA: “É a economia, estúpido!”. A continuação ou a
interrupção do mandato da presidente Dilma não será suficiente para trazer
saída à crise e evitar a decadência, se não entendermos que, para o Brasil: “É
a educação, gente!”
*Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)
Assessoria de Imprensa
Sen Cristovam
Buarque (PDT-DF)
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