*Por Cristovam Buarque
O Brasil não
atravessa apenas uma crise: vivemos uma desarrumação de que, se não cuidarmos,
vai nos levar para uma decadência.
Nos últimos 12
meses, a moeda brasileira desvalorizou cerca de 50% em relação ao dólar, e os
preços internos cresceram a 10%. A visão técnica chama isso de desvalorização e
inflação; na verdade, é uma profunda desarrumação nacional. Desestrutura o
sistema de trocas: os empresários aumentam os preços; os salários caem, os
trabalhadores fazem greves; a economia entra em uma ciranda caótica, e todo o
sistema de relações da economia se desarruma, como véspera do caos.
A economia
brasileira está desarrumada pelo tamanho da dívida e os consequentes juros
exorbitantes, pela falta de regras jurídicas estáveis, pela escassez de mão de
obra qualificada, pela baixa capacidade de inovação, pela falta de perspectiva
e planejamento no médio e longo prazos, pelo alto custo derivado da
infraestrutura obsoleta e ineficiente, pelo atraso em relação à economia do
conhecimento. Uma desarrumação que levará à decadência.
O Estado
brasileiro é um exemplo de desarrumação: no caos da política, na generalização
e profundidade da corrupção, na desorganização, burocracia, política salarial
sem critério, salvo como resposta às pressões corporativas. As finanças
públicas de União, estados e municípios, como das estatais, estão totalmente
desarrumadas.
A violência domina
as ruas de nossas cidades, desarrumando a vida urbana: o número de mortos, o
medo de ir às escolas e aos restaurantes, de tomar o ônibus são provas de algo
mais profundo do que a simples afirmação de insegurança. As ruas das cidades do
Brasil estão desarrumadas também pelo trânsito caótico, a pobreza, o transporte
público ineficiente.
A democracia
convive com greves. Mas quando elas se sucedem com frequência e se espalham por
todos os setores e demoram longamente, o país vive uma desarrumação. O sistema
educacional brasileiro, especialmente o público, está desarrumado pelo quadro
quase permanente de violência dentro das salas de aula, a desmotivação dos
professores, a falta dos equipamentos necessários, a desatenção dos alunos, o
descuido dos pais e dos governos.
O sistema de saúde
pública do Brasil está desarrumado. Não é uma questão de falta de recursos
financeiros, é desordem gerencial, descumprimento de obrigações.
O papel de um novo
governo será arrumar o Brasil para criar as bases de seu futuro como nação
eficiente e justa no mundo da economia e da sociedade do conhecimento;
corrigindo o desajuste fiscal, acabando com a corrupção e criando e respeitando
o marco jurídico, montando as infraestruturas física, educacional, cientifica e
tecnológica que o futuro exige. Mas o caos da desarrumação não nos permite
esperar: desde já é preciso que as lideranças nacionais, independentemente de
partido e de cálculos eleitorais, se encontrem, com o propósito de arrumar o
Brasil.
*Cristovam Buarque
é senador (PDT-DF)
Assessoria de Imprensa
Sen Cristovam Buarque (PDT-DF)
061 3303-2284 / 4100
Joaquim/Léo/Júnior
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