Entrevistado: Joelson Ferreira de Oliveira
Coordenador Regional do Território Litoral Sul
Justificando não tratar-se de bairrismo, o coordenador regional do
Território Litoral Sul, Joelson Ferreira de Oliveira, argumentou a
importância de uma diretoria da Ceplac mais "afinada" com os interesses
da região cacaueira na Bahia. Após a passagem quase desastrosa do
paraense Jay Wallace pela direção do órgão federal, a primeira aparição
oficial do novo diretor Hélliton Rocha foi altamente criticada pelo
coordenador de um dos principais órgãos de articulação de políticas
públicas no campo da região. Confira trechos nesta entrevista:
Jornal Agora - Como observou a troca de comando na Ceplac?
Joelson Ferreira de Oliveira - A Ceplac é um importante órgão para
pensar o cacau e colocam uma pessoa do Pará que não aprofundou um grande
diálogo na região, que foi o Jay Wallace. Agora realizaram a
substituição sem nenhuma discussão com a região que foi a chegada de
Héllinton Rocha. Até aí tudo bem, é uma decisão de governo que a gente
respeita. Mas, na primeira vinda à Bahia este diretor protagoniza um ato
de desrespeito às lideranças regionais, ao próprio diretor da Ceplac,
demonstrando um desrespeito total à região.
J. A. - Qual a primeira impressão deixada pelo novo diretor durante evento ocorrido esta semana na própria Ceplac?
J. F. O. - Em um evento para lançar cartilhas técnicas para a
Agricultura Familiar, produzidas com recursos da Agricultura Familiar,
só quem foi convidado para a mesa foram os representantes da
agricultura, toda a cúpula da CNA (Confederação Nacional da
Agricultura). O que ficou entendido é que o novo diretor não tem
consideração alguma pela região e nem tão pouco está disposto a abrir um
diálogo construtivo para que seja, de fato, reerguida a região
cacaueira.
J. A. - O que de fato ocorreu no evento na Ceplac que tanto desagradou a coordenação do território?
J. F. O. - O diretor geral da Ceplac veio para um evento da Agricultura Familiar, lançar cartilhas produzidas com o dinheiro
da agricultura familiar e, para isso, trouxe para a mesa toda a
representação da agricultura industrial para a mesa, no intuito de nos
representar. Pior ainda é que só ele queria falar, não dando direito às
representações e, queria chamar aquilo de diálogo. É diálogo da Casa
Grande Senzala de novo, onde só a Casa Grande fala e a Senzala tem que
se calar?
J. A. - Qual é o papel do Território na interlocução regional e por que a representação sentiu-se tão ofendida?
J. F. O. - A política territorial é do governo federal que veio para
abrir o diálogo da sociedade civil, junto aos poderes públicos para dar
uma nova resposta ao pacto federativo. Quando não se legitima esta
política, está indo contra à própria política governamental. E foi o que
fez o diretor geral da Ceplac que, como representante do governo
federal, teria que aproximar, e não fragmentar este diálogo.
J. A. Como percebe o diálogo Território- Ceplac antes do processo de troca de comando do órgão federal?
J. F. O. - Antes tínhamos um diálogo muito bom, principalmente pela
postura aberta de Juvenal Maynart (superintendente regional), quem abre
uma nova discussão sobre o cacau cabruca a partir da Rio + 20, sistema
agroflorestal importantíssimo que vem há mais de 250 anos protegendo a
mata atlântica. Percebemos que havia a abertura com os diversos setores
da sociedade, principalmente os pequenos produtores.
J. A. - Qual a participação da agricultura familiar na cacauilcultura da região?
J. F. O. - Hoje os pequenos produtores de cacau assentados na região
representam 100 mil hectares de cacau plantado na região, fruto da
agricultura familiar colaborando para a economia da lavoura cacaueira.
Temos que ser ouvidos.
J. A. - Além da própria representação entre os pequenos agricultores
familiares da lavoura cacaueira, quais ações e programas desenvolvidos
pelo Território Litoral Sul legitimam a reivindicação no processo?
J. F. O. - Nós fazemos pesquisa com cacau cabruca e com cacau
orgânico há mais de seis anos; realizamos recentemente uma Jornada
Agroecológica que trouxe a maior autoridade em agroecologia do Brasil,
Ana Primaveris; estamos trabalhando o cacau não com a perspectiva da
amêndoa, mas da cadeia produtiva do cacau, o que também está sendo
levado para a sivilcultura, a partir da expectativa de produção de
móveis e instrumentos. Tanto para o cacau, quanto para a madeira, a
intenção é produzir bens certificados em toda cadeia.
J. A. - Como está definido hoje o Território Litoral Sul ?
J. F. O. - São 26 municípios com chuvas abundantes, terras fartas,
mão de obra qualificada para a agricultura, mas o segundo colocado no
ranking de territórios com maior número de inscritos no Cadastro único
do Governo Federal para Programas Sociais de Transferência de Renda. Não
queremos este mérito das políticas compensatórias. Queremos do Governo
federal e estadual um projeto de desenvolvimento para que a região saia
do dilema em que está.
J. A. - Quais as possíveis consequências ambientais do atual modelo extrativista executado na região?
J. F. O. - A ampliação do modelo de pecuária extensiva, entre outras
práticas, gera um prejuízo enorme para as nascentes de água, para o
estrangulamento dos centros urbanos, com a superlotação das cidades pela
continuação do êxodo rural e das cidades de pequeno porte, e só
ganharemos em índices de violência, como já se registra hoje em Itabuna.
J. A. - Qual a principal demanda hoje à Ceplac para que seja retomado o diálogo com o Território Litoral Sul?
J. F. O. - Precisamos que a direção da Ceplac mude de postura e
reconheça a história de luta e construção da representatividade da
agricultura familiar. O respeito ao diálogo participativo é a base
fundamental, no qual todos tenham direito à palavra. Sobre as
reivindicações pontuais, a região já tem agricultura forte, o que
precisa é de dinheiro novo para garantir a cadeia produtiva e não
somente o plantio e colheita da amêndoa.
J. A. - Existe uma demanda por uma nova direção do órgão?
J. F. O. - O que existe é a demanda por uma diretoria afinada com a
região cacaueira fortalecida. É preciso entender que 70% do cacau no
Brasil está na Bahia e, sem bairrismo, o governo não pode colocar um
forasteiro para querer implantar as políticas autoritárias da antiga UDN
através da CNA.
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