Postado no Blog do Gusmão.

Por Emílio Gusmão
Ilhéus muitas vezes me parece um lugar de outro planeta, fora da realidade e distante do Brasil.
Fui para a
manifestação realizada no dia 20 de junho. Apesar de concordar com as
motivações, atuei como observador, não levei cartazes e não dei um
grito. Meu colaborador Lucas Vitorino e sua namorada Larissa Paixão
cobriram minha passividade (atenta) e fizeram uma boa cobertura com
várias imagens.
Agi
assim, pois tinha a certeza de que constataria nos protestos de Ilhéus
características bem distintas do que vem ocorrendo em outras cidades
brasileiras, principalmente nas capitais.
Antes das
observações, ressalto a importância da manifestação. Vi inúmeros
adolescentes, acompanhados dos pais, tentando engrossar a não tão
numerosa turba. Eles fizeram suas estreias no exercício da cidadania, e
para mim, só por isso o movimento foi válido.
Como
era de se esperar, vi a influência de elementos do PT. Um “pombo
correio” do deputado federal Josias Gomes (ex-padrinho do nefasto
ex-prefeito Newton Lima) atuou discretamente, com dicas e
aconselhamentos aos “velhos adolescentes” da juventude petista. Um
chegou a fazer um pronunciamento em frente à prefeitura. Senti falta do
“fora partido”, grito de guerra repetido em outras “urbes” onde andar de
“buzu” é sempre uma lástima.
Uma
ativista da sociedade civil organizada que dias antes, no Palácio
Paranaguá, dissera ser de sua função ajudar no fortalecimento do poder
constituído (na minha opinião evidenciou mais uma vez sua patente
simpatia ao prefeito), protestava ativamente, integrada a um movimento
onde a natureza dos poderes constituídos sofre duras críticas.
A
característica mais notável e contraditória foi a presença ativa de
secretários do governo Jabes Ribeiro (herdeiro de Newton Lima que
insiste em prolongar a falência dos serviços públicos). Eles circularam
livremente, tranquilos, como típicos indignados sem culpa no cartório.
Por muito pouco não pintaram suas faces com tinta guache (tiras verdes e
amarelas).
Um menino
de 8 anos segurava um cartaz com a frase pintada: “Quero estudar
Jabes”. Fazia alusão à falta de professores nas escolas municipais da
zona rural, apesar do novo governo já ter completado seis meses. Perto,
bem pertinho do consciente guri, a secretária de educação conversava com
assessores.
Certa
vez, durante um show de Caetano Veloso na Concha Acústica da Avenida
Soares Lopes, em Ilhéus, presenciei o mais elegante pito de um artista à
sua platéia.
Caetano,
numa apresentação de voz e violão, perguntou se o público ouviu a letra
da canção que tinha acabado de apresentar. Percebeu que durante a
execução, o burburinho insistiu como fundo dissonante.
“É claro que vocês não prestaram atenção. Minha mãe certa vez me disse que o povo do litoral é um pouco descarado”.
A platéia caiu na risada.
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