terça-feira, 2 de julho de 2013

PROTESTOS SUI GENERIS

Postado no Blog do Gusmão.

quero estudar Jabes

Por Emílio Gusmão

Ilhéus muitas vezes me parece um lugar de outro planeta, fora da realidade e distante do Brasil.

Fui para a manifestação realizada no dia 20 de junho. Apesar de concordar com as motivações, atuei como observador, não levei cartazes e não dei um grito. Meu colaborador Lucas Vitorino e sua namorada Larissa Paixão cobriram minha passividade (atenta) e fizeram uma boa cobertura com várias imagens.

Agi assim, pois tinha a certeza de que constataria nos protestos de Ilhéus características bem distintas do que vem ocorrendo em outras cidades brasileiras, principalmente nas capitais.

Antes das observações, ressalto a importância da manifestação. Vi inúmeros adolescentes, acompanhados dos pais, tentando engrossar a não tão numerosa turba. Eles fizeram suas estreias no exercício da cidadania, e para mim, só por isso o movimento foi válido.

Como era de se esperar, vi a influência de elementos do PT. Um “pombo correio” do deputado federal Josias Gomes (ex-padrinho do nefasto ex-prefeito Newton Lima) atuou discretamente, com dicas e aconselhamentos aos “velhos adolescentes” da juventude petista. Um chegou a fazer um pronunciamento em frente à prefeitura. Senti falta do “fora partido”, grito de guerra repetido em outras “urbes” onde andar de “buzu” é sempre uma lástima.

Uma ativista da sociedade civil organizada que dias antes, no Palácio Paranaguá, dissera ser de sua função ajudar no fortalecimento do poder constituído (na minha opinião evidenciou mais uma vez sua patente simpatia ao prefeito), protestava ativamente, integrada a um movimento onde a natureza dos poderes constituídos sofre duras críticas.

A característica mais notável e contraditória foi a presença ativa de secretários do governo Jabes Ribeiro (herdeiro de Newton Lima que insiste em prolongar a falência dos serviços públicos). Eles circularam livremente, tranquilos, como típicos indignados sem culpa no cartório. Por muito pouco não pintaram suas faces com tinta guache (tiras verdes e amarelas).

Um menino de 8 anos segurava um cartaz com a frase pintada: “Quero estudar Jabes”. Fazia alusão à falta de professores nas escolas municipais da zona rural, apesar do novo governo já ter completado seis meses. Perto, bem pertinho do consciente guri, a secretária de educação conversava com assessores.

Certa vez, durante um show de Caetano Veloso na Concha Acústica da Avenida Soares Lopes, em Ilhéus, presenciei o mais elegante pito de um artista à sua platéia.

Caetano, numa apresentação de voz e violão, perguntou se o público ouviu a letra da canção que tinha acabado de apresentar. Percebeu que durante a execução, o burburinho insistiu como fundo dissonante.

“É claro que vocês não prestaram atenção. Minha mãe certa vez me disse que o povo do litoral é um pouco descarado”.

A platéia caiu na risada.

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