quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Socorro, tem lição de casa!

Quem diria: a tarefa que as crianças trazem na mochila aterroriza muitos pais por aí. Mas quando família e escola se tornam parceiros nessa missão, quem ganha são os nossos filhos.

Por Adriana Teixeira no Globo.com
Dos traumas e aprendizados que nós, os pais, passamos em relação à escola dos nossos filhos, o fantasma da lição de casa é um dos principais para os que chegaram na faixa dos 8 anos. Tarefa, interpretação de texto, contas e leitura obrigatória são o equivalente ao que passam os pais de primeira viagem em relação a desfralde, chupeta, papinha e adaptação à primeira professora.

O principal problema da lição de casa é exatamente esse: ser lição para ser feita em casa. Problema para os pais, que piram. Problema para as crianças, que não aproveitam o aprendizado. Problema pra escola, que encontra resistência de pais e filhos em relação ao tema. O cenário não é muito animador, já que de um lado temos pais cansados de um longo turno de trabalho, impacientes e culpados ao mesmo tempo; e do outro lado, crianças às vezes igualmente cansadas de uma superjornada de atividades, mas sempre excitadas quando se trata de estar em casa, pra brincar e desfrutar a atenção dos pais. A escola, muitas vezes por imposição do mercado, passa a oferecer “assistência” à lição de casa como atividade extracurricular, e as crianças, entre resignadas e aborrecidas, aumentam sua jornada na sala de aula para dar conta do recado.

Presenciei vários pais em reuniões escolares bradarem contra a dificuldade da lição de casa – quase negociando com as professoras, “precisa mandar tarefa de português e de matemática no mesmo dia?!”. E presenciei professoras pacientes, explicando aos pais a importância desse instrumento pedagógico; já outras nem tanto, irrequietas com a falta de noção de alguns pais que protestam pela lição de casa como se fossem eles os punidos nessa história.

Pára tudo, que eu quero descer! Lição de casa não é pra pai fazer. Mesmo! Se a escola, que tem a competência do ensino, orienta uma tarefa para seu filho fazer em casa, é porque ela deve ser feita em casa pela criança! Não pela calculadora, nem pelo computador, e muito menos pela mãe, pai, avó, tia, babá ou quem seja o adulto responsável por essa criança no momento em que deve se dedicar a fazer a lição de casa. Uma criança que tem a supervisão de um adulto para esse tipo de atividade, de acordo com a orientação da escola, é facilmente identificada pela professora: tem tarefas completas (e isso não quer dizer certas, atenção!), letra caprichada, material em dia.

É cansativo? Oh, se é... Meu marido, que é um pai dedicado e bem atencioso, sempre “pulou” essa parte da lição de casa. Ele fica impaciente quando as crianças derrapam em um cálculo e não resiste, corrigindo a tarefa no meio. Bola fora, porque aí a Bruna não entende onde errou e tem mais chance de cometer o mesmo erro na sala de aula, quando não tiver o pai por perto pra alertá-la. De novo, a questão é supervisionar, apoiar e até eventualmente ajudar com uma proposta de cálculo: “ué, Bruna, mas você tirou um número menor de um número maior e o resultado deu um número maior ainda... será que está certo mesmo” – a estratégia ele aprendeu em uma daquelas reuniões em que ao invés de reclamar da lição de casa, um pai resolveu perguntar à (paciente) professora, como poderia, de fato ajudar seus filhos na resolução de contas matemáticas.

Não é resolvendo o problema por eles. Nem deixando que se atirem em erros cansativos. Trata-se, de como reza a boa e velha sabedoria popular, “ensiná-los a pescar”. Crianças estão aprendendo o tempo todo e precisam aprender a estudar também. Em casa, a competência para isso é nossa. E ensinamos, pra variar, com o nosso exemplo. Deixar que façam a lição de casa com a tv ligada, comendo, ouvindo música não é o melhor caminho – ainda que depois que cresçam eles possam descobrir, como meu filho pré-adolescente, que é no meio da muvuca que consegue se concentrar e pode, então, fazer lição de casa numa boa ... Até lá, tem chão. Paciência com a grafia incorreta, atenção às pesquisas escolares e sempre a ponte de comunicação com a escola: desconfia que os textos do livro de português estão desatualizados? Que tal chamar a coordenadora da área e debater, sugerir nova bibliografia? Interagir com a escola dos nossos filhos, além de um exercício de cidadania, é uma forma de mostrar às crianças que estamos com eles nesse barco, na alegria, e na tristeza, e nunca, nunca deixando que a lição de casa nos separe.

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