Diva Conceição
Ribeiro - UTFPR
- CESUPI
Especialista
em Língua Portuguesa – UNIOESTE/UNICAMP
Mestre
em Educação – Pedagogia universitária – PUC-PR
Doutora
em Língua Portuguesa
PUC-SP
O trabalho do professor de Língua
Portuguesa alcança índices de fragilidade considerados patológicos nas artes de
saber, de compreender, de ensinar e de fazer. As estratégias para esse ensino
parecem haver sofrido avarias desconcertantes. Fala-se na precariedade dos
resultados alcançados nos objetivos do ensino, das lacunas no repasse das
competências linguísticas e no domínio da norma padrão reveladas na produção
escrita dos discentes nos diferentes níveis de ensino, cujo insucesso
prende-se, em grande parte, à ineficácia da escola pública, esmagada por
fatores sociais e políticos que lhe asseguram a incapacidade de ensinar com
propriedade.
No mundo contemporâneo, as insatisfações
em diferentes esferas educativas corroboram para que esses eventos construam o
ethos do professor da disciplina como um ethos mais que ambíguo: indefinível,
pois diante da evolução alcançada pela classe, este docente parece não dar
conta de seus propósitos.
Frente à vasta produção desenvolvida na
área da linguagem, na análise do discurso com Orlandi(1999), Marcuschi(2008),
Bagno(2000), nos estudos sobre coerência e coesão de Koch e Lopes(1983) dentre
outros e a efetiva ação interdisciplinar nos estudos sobre os diferentes
contextos do texto, o resultado de um ensino eficaz longe está de ser
concretizado.
A definição sobre a aquisição cognitiva
do domínio da norma culta concentra-se, em última análise, em como o aluno
escreve, nos domínios de ortografia, semântica e sintaxe, que são os elementos
básicos e formadores de um quadro de ensino nos quais os conteúdos deveriam ter
sido de competência curricular.
Assim, vale repensar sobre os critérios
a serem aplicados sobre o ensino de língua portuguesa e a variação linguística
quanto à fala e à escrita, vias que são capazes de incluir ou de excluir o
aluno e classificá-lo como capaz ou incapaz no que se refere a ler e escrever.
É necessário, portanto, que o sistema de
ensino disponibilize ao corpo discente conteúdos estabelecidos como metas e que
sejam estes cumpridos, mas cumpridos de forma organizada, consciente e,
sobretudo, com propriedade.
Por propriedade entendemos o que seja
adquirido por meio de reflexão, e aplicado na vida prática, de acordo com as
circunstâncias. Nesse sentido, valemo-nos do artigo de Cláudio de Moura Castro,
publicado na Revista Veja (2002) intitulado O Brasil lê mal. Nesse trabalho,
Castro questiona o ensino de ler e escrever, cita países que venceram essas
dificuldades a custo praticamente zero e diz: “e não pode ser tão difícil
assim. É só querer”.
Essas reflexões de Castro podem ser
entendidas como amostras do pensamento da sociedade brasileira. Isto nos
impulsiona a rever a História da Educação no Brasil, e, em especial, a História
do Ensino de Língua Portuguesa em seus diferentes percursos. Esses conhecimentos
são trazidos, dentre outros, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais(1997) e
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais(2000). Nos PCN-Ensino Médio:
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias(s/d, p.55) “o ensino da língua materna deve considerar a
necessária aquisição e o desenvolvimento de três competências: interativa,
textual e gramatical.” Nesse sentido, do ensino ultrapassado pelo tempo à
modernidade deve valer o bom senso tanto do sistema escolar quanto do docente
em mesclar as diferentes práticas linguísticas em situação de uso, sem
priorizá-las, mas disponibilizá-las como ferramentas de uso eficientes para
suas finalidades linguísticas.
Os objetivos propostos pelo ensino devem
ser alcançados pela conquista de cada aluno e avaliados, também, conforme o
desempenho individual. Fique isto bem claro: são resultados alcançados e que
devem ter reflexos quando empregados na vida prática. Talvez, este seja um
caminho possível dentro do que se espera de uma sociedade democrática, isto é,
usar as diferentes linguagens em diferentes momentos e de acordo com a situação
de uso, porém sem macular a possibilidade de domínio da escrita na norma culta
e, ainda, exercitar as diferentes modalidades linguísticas. É necessário,
ainda, rever o conceito de avaliação e conseguir visualizar o processo
avaliativo no que se refere a estudos escolares entendidos como os três níveis
de funcionamento: Fundamental, Médio e Superior.
É preciso, também, contar com o apoio e
sustentação do sistema escolar, nas figuras do diretor, supervisor, orientador
e de colegas que atuam em mesmas séries embora em outras disciplinas.
A clareza com a qual forem construídos
os objetivos a serem alcançados na disciplina de língua portuguesa, terão,
efetivamente, reflexos em outras disciplinas na forma de interpretar textos, de
escrever com domínio e propriedade e, sobretudo, ver-se como sujeito no próprio
mundo e no mundo de suas ações. Teremos, dessa forma, um aluno sujeito agente
de seu próprio existir.
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