Reportagem Especial: Venda ao PAA garante dignidade a trabalhadores rurais em Barro Preto
Trabalhadores rurais do município de Barro
Preto, membros da Associação dos Trabalhadores Rurais em Regime de
Economia Solidária da Pedra Lascada, realizaram no sábado (16) a entrega
de seus produtos na sede da associação, concretizando
assim a venda direta ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do
governo federal. Os alimentos foram direcionados, na tarde do mesmo dia,
a quatro instituições assistenciais que fazem a distribuição a pessoas
carentes na zona urbana do município.
Estaria descrito acima todo o processo que
hoje garante renda e dignidade ao trabalhador rural da associação da
Pedra Lascada. Mas não é só isso. Ao fazerem a entrega de seus cultivos,
os produtores finalizaram um processo iniciado
com a conscientização do que é trabalhar sob a perspectiva do
associativismo, que passou pelo trabalho conjunto e pela confiança em
cada um de seus colegas e líderes da associação, e se concluiu com
efetivação da venda ao PAA.
O presidente da associação, Manoelito
Vieira Rodrigues, afirma que a parte mais difícil, que seria a
conscientização dos trabalhadores quanto ao modelo associativista,
tornou-se a mais simples, porque vai além do entendimento
de que a Associação da Pedra Lascada mantém um contrato com o governo,
de venda de produtos a partir da aprovação de um projeto de aquisição de
alimentos, e não sua diretoria.
“Mais que isso, eles têm o discernimento
que eles são a associação, e que eles, enquanto associação, é quem estão
vendendo seus produtos ao PAA. E mais: que a diretoria da associação
apenas faz o repasse do dinheiro do projeto
a cada membro. Portanto, o ideal associativista, aqui, funciona”,
garante Manoelito.
Não apenas funciona, como chama a atenção
de outros municípios da região sul da Bahia, pelo que apurou a
reportagem. No sábado, por exemplo, o ‘ritual’ de entrega dos produtos
foi acompanhado pelo secretário municipal de Agricultura
e pelo chefe do escritório da Empresa Baiana de Desenvolvimento
Agropecuário em Ibicaraí, Danilo Simões e Bernardino Rocha,
respectivamente. Também teve o acompanhamento do chefe do Escritório
Local da Comissão Executiva do Plano da lavoura Cacaueira (Ceplac)
em Coaraci, José Américo, além da secretária de Agricultura de Barro
Preto, Izabella Costa.
O objetivo de todos, incluindo as
autoridades do próprio município de Barro Preto, foi justamente conhecer
o modelo utilizado pela Associação da Pedra Lascada, para replicá-lo em
suas localidades ou – no caso de Barro Preto, estimular
a expansão, quem sabe fomentando a criação de outras associações.
“Vimos aqui mais do que um simples ato de
compra e venda. Vimos a efetivação do objeto do PAA, que é garantir
renda e dignidade ao trabalhador rural e, na outra ponta, alimento e
dignidade aos beneficiários do programa, tudo intermediado
por um processo de administração aberto e transparente na Associação da
Pedra Lascada. Era possível ver a alegria nos olhos de cada trabalhador
ao entregar seus produtos. Com certeza, queremos levar esse modelo para
Ibicaraí”, afirma o secretário Danilo Simões.
Exemplos
O sucesso da Associação da Pedra Lascada
talvez se explique pelas histórias de vida de seus associados. Como a de
sua secretária, Natiele Santana Rodrigues, que sonhava ser advogada e
morar na cidade, por ter vergonha de assumir
sua origem rural, mas que hoje cursa Agronomia no Instituto Federal de
Educação em Uruçuca, antiga Emarc, e dá aulas de compostagem orgânica
para os colegas associados, além de ajudar na organização da entidade.
Outro caso que inspira a todos que a
conhecem é o da viúva Genilsa Rita dos Santos, 54 anos. Sozinha há 26
anos, ela não tinha onde plantar, e vivia apenas da ajuda de seus
filhos, que já não moravam com ela na roça. Quando começou
a freqüentar as reuniões da associação, decidiu plantar suas hortas
sem, sequer, se importar com o fato de que não possuía terra cultivável,
apenas um quintal constituído de pedras. “Carreguei terra de outros
locais para fazer as hortas em cima das pedras.
Até cenoura já cultivei”.
Hoje, Genilsa possui pouco mais de meio
hectare de terra, doado por um agricultor da região, e sua vida ficou
mais fácil. Produz azeite de dendê, corante de urucum, além de
hortaliças diversas e aipim. Ou seja, processa matérias-primas
e agrega valor ao coco de dendê e ao urucum, entre outros produtos,
aumentando sua renda. “Crio dois netos, meus filhos ajudam, mas a venda
ao PAA me garante a renda de que preciso para levar uma vida com
dignidade, ganhando meu próprio dinheiro”.
Ceplac
O processo de fortalecimento da Associação
da Pedra Lascada tem apoio da Ceplac, órgão do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que é quem garante a assistência
técnica e fiscaliza a execução do projeto do PAA.
“Acompanhamos a associação no seu dia-a-dia, orientando e ajudando na
resolução das demandas, além de garantir assistência técnica rural aos
associados, estimulando a diversificação de culturas e a integração com a
comunidade local”, afirma o chefe do Escritório
Local de Barro Preto, José Carlos Silva Santana.
Fonte: Jornalista da Sueba - Superintendência da Ceplac na Bahia
Domingos Matos
Domingos Matos
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