Postado por Brasil Economico
Entrevista concecida ao podcast da Rio Bravo Investimentos
Entrevista concecida ao podcast da Rio Bravo Investimentos
Paulo Saab, um dos fundadores e presidente do Instituto da Cidadania Brasil, explica o motivo de muitos brasileiros não serem investidos do sentimento de País.
Em entrevista ao podcast da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos, Paulo Saab discorreu sobre o tema. O Instituto é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público cuja missão é difundir os conceitos de cidadania através da educação.
O Instituto tem projetos tais como o "Construindo a nação" (para alunos no ensino fundamental e médio) e o "Cidadania sem fronteiras" (para o ensino superior), e desenvolve seu trabalho em parceria com instituições como a Fundação Casper Líbero, a Fundação Volkswagen e a Anhanguera Educacional.
É comum a gente dizer que o brasileiro não se comporta como um cidadão, ou que não é investido do sentimento de País. Onde é que esse distanciamento começa? Quais as raízes históricas disto?
A situação da cidadania no Brasil reflete um pouco o processo cultural brasileiro. Nós não temos a consciência da cidadania, não sabemos o que é isso; claro que hoje numa escala menor do que era antes, há um processo em evolução embora, muito aquém da necessidade que o Brasil apresenta porque aqui tudo é exponencial.
A origem desse distanciamento se dá por um processo histórico que começa com o que se chama de descobrimento do Brasil, que na verdade foi o "achamento" do nosso território. O Brasil tem hoje 510 anos de território e o Estado Brasileiro começou a ser fundado a partir de 1808 quando o Rei D. João VI, fugindo de Napoleão, veio para o Brasil. Ele trouxe com ele o reino. Ao trazer o reino pra cá, ele precisou de mecanismos pra governar, porque até então nós éramos uma colônia que passou a vice-reino e, de repente, sede do reino português. Todo mundo sabe isso porque aprendeu na escola.
Ele abriu os portos às Nações Amigas, fundou o Banco do Brasil, criou toda uma infraestrutura. O Estado nasceu primeiro que a sociedade. Nós temos um país que tem 510 anos, com um Estado que tem 202 anos e a nação brasileira?
A nação brasileira está em construção neste momento. Nos três primeiros séculos nós tivemos os portugueses, os índios que aqui estavam e os negros trazidos escravizados. A miscigenação começou ali e mais tarde, nos séculos seguintes, começaram os processos de imigração pro Brasil.
Todos nós somos frutos desse processo; ou das três primeiras raças que vieram, ou das que vieram posteriormente, criando a grande miscigenação que está fazendo hoje que a população brasileira comece a apurar, de fato, seus valores. Isso está em andamento, mas não existe como realidade.
Por isso que há uma grande defasagem em relação ao que deveríamos ser como nação e ao que nós somos, por uma questão cultural e educacional.
Nós temos um Estado que nasceu antes, e por isso o brasileiro, aquele que pra cá veio e aqui vive, de alguma maneira, se acostumou a esperar que tudo venha de cima, por isso que se dá tanta importância também à figura do Presidente; nós ficamos sempre esperando que o Estado venha resolver os problemas do cidadão.
Você acha que a maioria das pessoas terceiriza a idéia de cidadania para os políticos e os governantes, como se fosse deles a tarefa de consertar o país?
É o inverso. Deveria terceirizar, porque a democracia representativa é assim, mas em cima de valores que essas pessoas deveriam transportar na representação como emanados dessa base, quando acontece justamente o contrário. Como nós não temos ainda essa sensação de organização social, de que nós somos um povo e uma nação com valores comuns, nós não elegemos representantes que representam o nosso pensamento; nós terceirizamos o voto, mas não sabemos pra quem.
É a mesma coisa que ir a um cartório e passar uma procuração em branco. As pessoas não têm consciência de que o voto é uma procuração em branco; alguém vai falar no seu nome, só que a gente escolhe o candidato aleatoriamente por "n" motivos que nem valem mencionar agora e esta pessoa vai pra lá representando a si próprio e jamais aqueles que deram a delegação pra ele.
Por isso que existe essa defasagem do distanciamento. Nós não conhecemos como funciona o país, não conhecemos a nossa história, temos esse ranço cultural de esperar que o poder público resolva.
Nós deveríamos ser uma sociedade organizada com valores, elegendo representantes que fossem exercitar esses valores consagrados na constituição no exercício do governo que é a administração do bem-comum, dos interesses, da conciliação, enfim, é a forma de fazer o país andar. No Brasil não acontece isso. Todo mundo fica esperando vir de cima e aí há o distanciamento natural.
A pessoa diz que não participa de política e sofre em casa porque abre o jornal, ouve o rádio, assiste à televisão e entra no que eu chamo de síndrome do "que absurdo". O que é que é isso? É a confrontação dos seus valores com a realidade, só que as pessoas por não emanarem os seus valores, ficam nas mãos de terceiros que representam a si próprios ou a grupos de poder oligopolizados. Por que? Porque a população não participa. Ao delegar, ela também faz de forma aleatória.
O Instituto foi fundado em 1998. Você hoje está mais animado ou está achando que a batalha é muito difícil?
O começo foi muito difícil porque você ao sair falando de educação e cidadania, as pessoas logo perguntam se você é candidato a alguma coisa.
"Sou candidato a um Brasil melhor". Eu sou fruto desse processo porque eu sou neto de imigrantes e eu consegui realizar minha carreira profissional, estruturar minha vida e minha família, baseado no fato de eu ter tido oportunidade de estudar.
Porque eu estudei eu pude criar essa carreira, esse trabalho que me trouxe até o momento que os amigos e companheiros entenderam que eu poderia capitanear esse trabalho. Se serviu pra mim, pode servir para todos os brasileiros.
Esta contribuição a gente dá voluntariamente, por entender que é uma contribuição que todos que puderem dar pra melhorar o país deveriam dar.
Em entrevista ao podcast da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos, Paulo Saab discorreu sobre o tema. O Instituto é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público cuja missão é difundir os conceitos de cidadania através da educação.
O Instituto tem projetos tais como o "Construindo a nação" (para alunos no ensino fundamental e médio) e o "Cidadania sem fronteiras" (para o ensino superior), e desenvolve seu trabalho em parceria com instituições como a Fundação Casper Líbero, a Fundação Volkswagen e a Anhanguera Educacional.
É comum a gente dizer que o brasileiro não se comporta como um cidadão, ou que não é investido do sentimento de País. Onde é que esse distanciamento começa? Quais as raízes históricas disto?
A situação da cidadania no Brasil reflete um pouco o processo cultural brasileiro. Nós não temos a consciência da cidadania, não sabemos o que é isso; claro que hoje numa escala menor do que era antes, há um processo em evolução embora, muito aquém da necessidade que o Brasil apresenta porque aqui tudo é exponencial.
A origem desse distanciamento se dá por um processo histórico que começa com o que se chama de descobrimento do Brasil, que na verdade foi o "achamento" do nosso território. O Brasil tem hoje 510 anos de território e o Estado Brasileiro começou a ser fundado a partir de 1808 quando o Rei D. João VI, fugindo de Napoleão, veio para o Brasil. Ele trouxe com ele o reino. Ao trazer o reino pra cá, ele precisou de mecanismos pra governar, porque até então nós éramos uma colônia que passou a vice-reino e, de repente, sede do reino português. Todo mundo sabe isso porque aprendeu na escola.
Ele abriu os portos às Nações Amigas, fundou o Banco do Brasil, criou toda uma infraestrutura. O Estado nasceu primeiro que a sociedade. Nós temos um país que tem 510 anos, com um Estado que tem 202 anos e a nação brasileira?
A nação brasileira está em construção neste momento. Nos três primeiros séculos nós tivemos os portugueses, os índios que aqui estavam e os negros trazidos escravizados. A miscigenação começou ali e mais tarde, nos séculos seguintes, começaram os processos de imigração pro Brasil.
Todos nós somos frutos desse processo; ou das três primeiras raças que vieram, ou das que vieram posteriormente, criando a grande miscigenação que está fazendo hoje que a população brasileira comece a apurar, de fato, seus valores. Isso está em andamento, mas não existe como realidade.
Por isso que há uma grande defasagem em relação ao que deveríamos ser como nação e ao que nós somos, por uma questão cultural e educacional.
Nós temos um Estado que nasceu antes, e por isso o brasileiro, aquele que pra cá veio e aqui vive, de alguma maneira, se acostumou a esperar que tudo venha de cima, por isso que se dá tanta importância também à figura do Presidente; nós ficamos sempre esperando que o Estado venha resolver os problemas do cidadão.
Você acha que a maioria das pessoas terceiriza a idéia de cidadania para os políticos e os governantes, como se fosse deles a tarefa de consertar o país?
É o inverso. Deveria terceirizar, porque a democracia representativa é assim, mas em cima de valores que essas pessoas deveriam transportar na representação como emanados dessa base, quando acontece justamente o contrário. Como nós não temos ainda essa sensação de organização social, de que nós somos um povo e uma nação com valores comuns, nós não elegemos representantes que representam o nosso pensamento; nós terceirizamos o voto, mas não sabemos pra quem.
É a mesma coisa que ir a um cartório e passar uma procuração em branco. As pessoas não têm consciência de que o voto é uma procuração em branco; alguém vai falar no seu nome, só que a gente escolhe o candidato aleatoriamente por "n" motivos que nem valem mencionar agora e esta pessoa vai pra lá representando a si próprio e jamais aqueles que deram a delegação pra ele.
Por isso que existe essa defasagem do distanciamento. Nós não conhecemos como funciona o país, não conhecemos a nossa história, temos esse ranço cultural de esperar que o poder público resolva.
Nós deveríamos ser uma sociedade organizada com valores, elegendo representantes que fossem exercitar esses valores consagrados na constituição no exercício do governo que é a administração do bem-comum, dos interesses, da conciliação, enfim, é a forma de fazer o país andar. No Brasil não acontece isso. Todo mundo fica esperando vir de cima e aí há o distanciamento natural.
A pessoa diz que não participa de política e sofre em casa porque abre o jornal, ouve o rádio, assiste à televisão e entra no que eu chamo de síndrome do "que absurdo". O que é que é isso? É a confrontação dos seus valores com a realidade, só que as pessoas por não emanarem os seus valores, ficam nas mãos de terceiros que representam a si próprios ou a grupos de poder oligopolizados. Por que? Porque a população não participa. Ao delegar, ela também faz de forma aleatória.
O Instituto foi fundado em 1998. Você hoje está mais animado ou está achando que a batalha é muito difícil?
O começo foi muito difícil porque você ao sair falando de educação e cidadania, as pessoas logo perguntam se você é candidato a alguma coisa.
"Sou candidato a um Brasil melhor". Eu sou fruto desse processo porque eu sou neto de imigrantes e eu consegui realizar minha carreira profissional, estruturar minha vida e minha família, baseado no fato de eu ter tido oportunidade de estudar.
Porque eu estudei eu pude criar essa carreira, esse trabalho que me trouxe até o momento que os amigos e companheiros entenderam que eu poderia capitanear esse trabalho. Se serviu pra mim, pode servir para todos os brasileiros.
Esta contribuição a gente dá voluntariamente, por entender que é uma contribuição que todos que puderem dar pra melhorar o país deveriam dar.
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