quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ciro Gomes vê mais chances de ser eleito presidente do que governador

Possível candidato à Presidência da República em 2010, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) afirmou que não quer se eleger "nunca mais" à Câmara, praticamente afastou a possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2010 e reforçou seu desejo de ser o sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apesar de a preferida dele ser a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Em entrevista exclusiva ao UOL Notícias, Ciro negou que Lula tenha pedido a ele que seja candidato a suceder seu desafeto José Serra no Palácio dos Bandeirantes. Apesar disso, disse ele, a decisão final sobre essa transferência do Ceará para São Paulo vai depender de seu partido.

"O presidente Lula jamais, em tempo algum, me fez algum apelo com relação à candidatura ao governo de São Paulo ou à Presidência da República", apontou. "Combinamos de seguir conversando e examinar a situação ali por fevereiro do ano que vem. E aí nessa circunstância que ele me pergunta se eu aceitaria transferir o domicílio eleitoral para São Paulo, mantendo as portas abertas e decidir, daqui, a candidatura à Presidência."

Ciro comenta a crise política no Congresso e critica aliança do PT com o PMDB

"Eu não pretendo ser candidato a governador de São Paulo. Não participo de pegadinha. Agora compreendo que há muita seriedade na ponderação de alguns companheiros no PSB e no presidente Lula de cogitar isso. Mas eu não quero. Não desejo isso. Os paulistas têm que achar entre os que têm rotina aqui uma pessoa que possa interpretar esse sentimento de mudança", afirmou.

Sobre uma eventual composição com Dilma na chapa governista, Ciro desconversou. "Ninguém é candidato a vice. Eu sou candidato a presidente ou nada. Sou candidato a presidente numa condição dura. O não convidado tem às vezes que mandar o cotovelo. É isso que me mantém na política", disse.

Aliado de Lula desde 2002 e ex-ministro da Integração Nacional, Ciro criticou a aliança do PT com o PMDB, cujo presidente licenciado, o deputado Michel Temer (SP), pediu nesta sexta-feira celeridade nas negociações para compor a chapa em torno de Dilma.

"A hegemonia moral e intelectual hoje que preside essa relação do PT com o PMDB, eu não gosto, acho frouxa, perigosa para o país. O Lula aguenta porque tem uma exuberância na relação popular, na sua liderança, mas nenhum outro de nós aguenta isso." Ele fez questão de frisar, no entanto, que não tem "nada contra o PMDB", embora já tenha feito duras críticas a próceres do partido, como o presidente do Senado, José Sarney (AP), e o líder da sigla no Senado, Renan Calheiros (AL).

Adversários

Ex-membro do PSDB, Ciro afirmou que apesar das divergências com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Serra, é muito próximo do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, embora negue que fosse abrir mão de sua candidatura à Presidência, caso o mineiro seja o candidato tucano ao Palácio do Planalto.

Sobre Dilma, Ciro disse que ela "está aprendendo" a discursar em palanques e que deve receber votos por ser a preferida do presidente. "Ela é muito brilhante, muito capaz, ela aprende rápido", afirmou. O deputado disse que não lamentou a decisão de Lula de dar apoio à ministra: "Como vou esperar que ele [Lula] me apoie? Eu sou do PSB e ele do PT. O PSB apoia o governo dele mas a minha posição é diferente".

Ciro apontou ainda que a mudança de partido da senadora Marina Silva - do PT para o PV - não influenciou a decisão dele de disputar o Palácio do Planalto. "Vai passar para história que sim, mas não foi", brincou. Ele elogiou a ex-ministra do Meio Ambiente e disse que ela "tem muito amor ao Brasil".

O deputado federal também demonstrou sua afeição a Lula, a quem chamou de "campeão da democracia" e "gênio". "Estou aprendendo muito com ele", disse.

Ciro elogiou ainda os programas sociais do governo federal, em especial o Bolsa Família. O deputado alertou que essa não é a solução final para atenuar as desigualdades sociais no Brasil e que país não pode se acomodar. "O risco é sentar em cima, pois o que emancipa o país é o trabalho qualificado", afirmou.

O possível candidato ao Planalto pelo PSB fez ainda diversas críticas ao governo do ex-presidente do Fernando Henrique (1995-2002), a quem acusou, entre outras coisas, de aumentar a carga tributária, elevar a dívida pública brasileira, sucatear as estradas e gerar o apagão energético. Previu clima que esse clima de embate retornará em 2010. "E é a turma do Fernando Henrique Cardoso que vem para derrubar o Lula", resumiu.


Escândalos no Congresso

Para Ciro, Lula não teve nenhuma responsabilidade sobre o episódio do mensalão, denunciado em 2005 e segundo o qual membros do governo teriam comprado apoio parlamentar para a administração petista. Os que foram acusados do caso é que devem ser os responsáveis, segundo ele.

O deputado afirmou que não sente vergonha do Parlamento brasileiro apesar da série de escândalos denunciados apenas neste ano, entre os quais estão acusações de nepotismo, mau uso de recursos públicos para compra de passagens aéreas e tráfico de influência. "Tenho muita tristeza de testemunhar isso", afirmou. Para ele, o Senado é "um santuário" da representação popular, e o que está errado é o comportamento dos políticos. Por essas razões, disse, espera não voltar ao Congresso "nunca mais".

Solicitado a dar uma nota ao Congresso, o deputado federal disse: "Como instituição, nota 10, como prática, nota 2". Na avaliação do político, o grande problema é a baixa produtividade do Congresso.

Durante a entrevista, o possível candidato ao Planalto criticou ainda a imprensa, afirmando que ela tende a generalizar os políticos como todos iguais. Ele pediu ainda para que a mídia brasileira ajude a população mostrando quem são os bons políticos.

Ciro disse ainda que não acha errado que um político um dia fale mal de um colega e depois se junte a ele. "O política exige isso", apontou.

Maurício Savarese e Diogo Pinheiro do UOL Notícias

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