23 de setembro de 2009.
Elias Reis
eliasreis.ilheus@gmail.com
Em idas e vindas constantes nos transportes coletivos, nas instituições financeiras da cidade e nas repartições públicas deste município uma coisa é perceptível: As pessoas não gostam de ler.
Quantas pessoas você viu lendo um livro dentro de um ônibus, em filas de um banco, nas cadeiras da sala de recepção do INSS ou mesmo nas salas de espera de um consultório médico? A resposta a esta pergunta quase simplória pode revelar dados tristes e interessantes.
Se você levar em conta o número de pessoas que lêem a Bíblia Sagrada, compram gibis e revistas femininas e sensacionalistas nas bancas de jornal, terá a ilusão de que temos bons índices de leitores. Porém, ainda lemos muito pouco. Ilhéus dispõe hoje de uma quantidade quase satisfatória de livrarias, sebos e bancas de revistas para atender a população local, apesar das deficiências no conjunto das obras literárias. Claro que esta situação não é apenas em Ilhéus, é reflexo de uma cultura nacional. Enquanto o índice de leitura no Brasil fica em 2,1 exemplares por habitantes/ano, na França e Estados Unidos a média é 9,3 exemplares por habitantes/ano. Apesar de o mercado brasileiro parecer promissor, é necessário saber o porquê do nosso povo não gostar de ler. Preguiça, desinteresse, falta de hábito ou de dinheiro, ensino equivocado da literatura nas escolas e universidades?
Podem ser todos esses fatores reunidos ou parte deles que, somados as poucas e deficientes bibliotecas municipais, além da ausência de campanhas de incentivo à leitura, principalmente de autores regionais.
Pesquisas recentes encomendadas por editoras, mostram que maioria das pessoas, principalmente jovens, prefere comprar revistas de fofocas do mundo artístico, revistas adultas e semanários que evidenciam horóscopo, estética e culinária, a comprar uma obra de Machado de Assis, Darcy Ribeiro, Jorge Amado e tantos outros ‘Pelés’ da escrita. “É inconcebível um jovem de 18, 19, 20 anos não conhecer a obra do polêmico Maquiavel, O Príncipe.” Analisa Jorge Palus, diretor da Editora Martin Claret.
Hoje no Brasil apenas 15% da população têm algum contato com livros. E esses, são os que passaram mais tempo nos bancos escolares e possuem uma maior renda. Um aspecto importante a ressaltar é o alto preço das publicações, tornando o livro no Brasil um artigo de luxo.
Uma situação real e local é o vestibular da Uesc, que está com o seu exame marcado para os dias 10, 11 e 12 de janeiro de 2010. Há tempo a coordenação da universidade já anunciara as obras literárias recomendadas para serem aplicadas para o triênio 2010/2011/2012, mas são pouquíssimas as pessoas que se preocuparam a fazer a leitura de tais obras. Normalmente os vestibulandos só se preocupam com a leitura delas após a inscrição e ainda assim, buscando um resumo na internet ou no máximo lendo as orelhas dos livros.
Numa conversa com alguns pais de alunos da rede pública constatamos que pouquíssimas escolas aqui em Ilhéus incentivam seus ‘sobrinhos’ a leitura extra, impedindo-os a uma visão critica mais apurada. Essa falta de incentivo e de estimulo da escola, junto ao desinteresse do alunado, é visível nas reprovações destes nos vestibulares, visto que, pesquisas recentes afirmam que, 90% dos aprovados no vestibular da rede estadual da Bahia, são oriundos das escolas particulares. As escolas privadas têm uma preocupação maior, haja vista o poder de aplicação na qualidade dos docentes, material e espaço físico de trabalho e até mesmo pelos seminários e atividades extra-classe que promovem. Aliás, maiorias das escolas particulares de Ilhéus já começaram a trabalhar com seus alunos as obras literárias do vestibular da Uesc. E as públicas?
Uma sociedade de iletrados tem mais dificuldades em entender seus problemas e sua própria história. Portanto, dá até para arriscar, parafraseando Mário de Andrade em Macunaíma que “muita televisão e pouca leitura os males do Brasil são”.
Quase todos os jovens estudantes sabem cantarolar as canções do momento, conhecem todas as novelas da Rede Globo e da Record, artistas da televisão e são mestres quando o assunto é Orkut e MSN. Maravilhoso seria se também se interessassem pela leitura, se penetrassem nas obras mágicas de Gonçalves Dias, Guimarães Rosa, Cyro de Mattos, Jorge Araújo e tantos outros. Com o advento da Televisão e principalmente da Internet, o livro ficou pra trás. Deixamos de ser um agente leitor e passamos a ser apenas espectadores, quando poderíamos ser, leitores e espectadores.
Até mesmo os adeptos do cristianismo limitam-se exclusivamente e tão-somente a uma única fonte quando buscam informações sobre os evangelistas. Não é pecado algum se vasculhar também os escritos não tantos apócrifos, quando o objetivo é navegar nas águas profundas da razão.
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