segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Entrevista exclusiva com Linda Goulart:

Do Blog da Mobilização

1. Qual foi o grande destaque do trabalho de mobilização social pela educação realizado pelo MEC em 2010?
No geral, tivemos muitos avanços. Cito alguns, como a definição mais clara da lógica da mobilização, que aponta a necessidade de políticas intersetoriais que criem uma rede articulada de proteção às crianças e suas famílias. Isso significa ação integrada entre educação, saúde, desenvolvimento social, justiça, cultura, trabalho e emprego. Para nós está claro que, considerando o perfil dos alunos da escola pública, só essa ação articulada cria condições para garantir o direito de aprender.
Outro destaque foi a inclusão da mobilização social pela educação no Plano Nacional de Educação (PNE). O PNE estabelece, na meta sete, que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) será usado para avaliar a qualidade do ensino. Dentre as estratégias definidas para o seu alcance, duas dizem respeito específico à mobilização social. Uma fala justamente sobre a importância da interação entre a educação formal com experiências de educação popular e cidadã, com os propósitos de que a educação seja assumida como responsabilidade de todos, e a outra apresenta essa questão da articulação dos programas da área da educação, com os de outras áreas, possibilitando a criação de uma rede de apoio integral às famílias.
Vale citar também a ampliação do alcance das ações de mobilização, seja pelo trabalho dos voluntários das instituições religiosas, seja pelo trabalho de parceiros, como o Instituto Votorantim, ou ainda pelas secretarias de educação que têm aderido ao projeto. A participação das secretarias é outro fator que gostaria de destacar, porque elas têm a grande responsabilidade de motivar e induzir suas escolas a promover a interação família/escola/comunidade.
2. Quais são os principais desafios para 2011? Existe alguma novidade prevista para este ano?
Definimos como estratégia para 2011 a atuação focada em territórios. Fizemos um mapeamento de todos os voluntários que integram a nossa rede, localizando-os espacialmente. Em seguida, a partir desses territórios, identificamos as meso e as microrregiões, relacionando os mobilizadores atuantes nessas áreas. Considerando a lógica da mobilização, o esforço será consolidar a base atual e ampliá-la, buscando parceiros que viabilizem a lógica nesses territórios.  Assim, antes de agregarmos novos mobilizadores indistintamente, vamos focar nas regiões em torno dos territórios onde já existem essas ações e procurar complementações que envolvam famílias, escolas e órgãos e entidades de apoio à proteção da criança e do adolescente e de suas famílias.
3. A presidenta Dilma Rousseff tem citado a questão da mobilização pela educação em alguns de seus pronunciamentos. Como o tema tem sido encarado nessa nova gestão do Governo Federal?
Ficamos muito felizes de a presidenta Dilma Rousseff ter dedicado seu primeiro pronunciamento público ao país à prioridade que o governo dará à educação e o entendimento do papel da educação em qualquer estratégia de desenvolvimento. O destaque à mobilização social, quando ela se colocou desejosa de, como presidenta, mãe e avó a liderar esse movimento, certamente dará força aos esforços que o Ministério da Educação vem fazendo desde que o ministro Fernando Haddad lançou o Plano de Desenvolvimento da Educação, em 2007. Acreditamos que ela dará seu apoio às nossas buscas de parcerias com os demais ministérios para a articulação dessa rede de proteção que mencionei anteriormente.
4. Quantos mobilizadores já foram capacitados pela área de mobilização do MEC?
Realizamos 61 oficinas, pelas quais passaram mais de 3 mil mobilizadores. Nossa equipe calcula que esse número seja bem maior, já que os mobilizadores capacitados têm realizado oficinas com seus públicos sem que isso chegue ao nosso conhecimento. Aliás, essa é uma característica da mobilização social – a ampliação das ações fora de nossa esfera – e, sempre que tomamos conhecimento de alguma iniciativa que não tenha passado por nós, consideramos que o projeto está sendo bem sucedido.
5. Ao longo destes anos de trabalho, é possível elencar quais as melhores estratégias para sensibilizar e engajar famílias sobre o valor da educação?
São várias as estratégias. Penso que o trabalho contínuo, diria até rotineiro, de mostrar às famílias que educação de qualidade para seus filhos é dever do estado e, portanto, elas têm o direito de exigir isso, é essencial, além de apresentar, com exemplos concretos, os benefícios futuros que os filhos terão com a educação. É uma tarefa permanente e que exige muito esforço, dedicação e a crença de que ele pode dar resultados. Isso porque, infelizmente, as famílias ainda pensam que educação é privilégio para poucos e só o fato de haver escola para todos, com merenda, livro didático, computadores, transporte escolar, já está bom demais. Convencê-las de que o direito de aprender tem que estar no centro de suas preocupações, dá trabalho.
É importante atrair para a mobilização pessoas e entidades que exerçam um papel de liderança junto às famílias e que tenham credibilidade. Se o padre, o pastor e o empregador se engajarem nessa luta cotidiana, por exemplo, as famílias vão se convencer. Assim como as lideranças comunitárias, os donos ou gerentes dos estabelecimentos que as famílias costumam frequentar, que também precisam ser convencidos de que devem fazer sua parte nessa “batalha”. Não devemos esquecer, é claro, do papel central que a escola ocupa nesse processo. Se a escola não quiser, a família não entra. Se a escola quiser e fizer realmente esforços concretos para conhecer essas famílias, valorizar seus saberes e apoiar os alunos, essa interação ficará muito mais fácil.
6. Como tem sido o trabalho com as entidades religiosas na mobilização de famílias Brasil afora?
As instituições religiosas têm sido nossos grandes parceiros nesse projeto. Estão engajadas desde o início, participaram da elaboração da cartilha e seus voluntários têm relatado casos de mobilização fantásticos. Temos hoje em nossa rede voluntários de quase todas as igrejas cristãs. No Rio de Janeiro, já contamos com pessoas ligadas a instituições fora do campo cristão. É importante destacar que essas instituições têm atuado lado a lado nos comitês e nas ações empreendidas em suas comunidades, mostrando que a educação consegue uni-las, relativizando as diferenças que existem entre elas.
7. Como você vê a participação das empresas em iniciativas voltadas à mobilização social pela educação?
Como já mencionei, as empresas são, ao lado das igrejas, as grandes forças que podem mobilizar as famílias. Todo pai, toda mãe, todo parente de estudante tem algum vínculo com as empresas. Seja como empregado, seja como beneficiário de algum projeto social que elas desenvolvem na comunidade. Imaginemos um cenário em que um número expressivo de empresas usasse todos os seus recursos de comunicação para levar a mensagem da educação como direito da família e dos deveres que seus empregados têm em relação à vida escolar dos filhos e dependentes. Seria uma colaboração valiosa. Se a isso se agregasse a iniciativa de mobilizar as famílias das comunidades onde ela tem alguma unidade ou algum tipo de atuação, seria extraordinário. Nos municípios menores, a empresa é respeitada pelo prefeito, pelos vereadores, pelas lideranças locais. O impacto de suas ações é muito grande e, mobilizar pela educação, faz parte de sua responsabilidade social.
8. A cartilha “Acompanhem a vida escolar dos seus filhos” tem sido uma importante ferramenta para a mobilização de famílias. Quantos exemplares já foram distribuídos? O MEC continuará editando essa publicação?
A cartilha é a principal ferramenta da mobilização. Ela é muito simples, direta e sua mensagem é clara. E equilibra bem a noção de direitos e deveres das famílias em relação à vida escolar de seus dependentes. Faz um sucesso enorme onde é distribuída e seu conteúdo é trabalhado. Mais de três milhões de exemplares já foram entregues em todo o país. Isso sem contar as iniciativas de parceiros, como empresas, ONGs e secretarias de educação que também imprimiram e distribuíram as cartilhas. Estamos agora iniciando o processo de licitação para imprimirmos mais exemplares para serem distribuídos pelos voluntários. E estamos também buscando parcerias para que essa impressão ocorra mais rapidamente, porque os estoques estão se esgotando e os mobilizadores têm nos pedido insistentemente o envio de novos lotes.
9. Alguma experiência de mobilização que você observou é icônica deste trabalho? É possível descrever um caso de sucesso?
Costumo dizer que toda experiência é relevante. E não é só retórico, o importante é que alguém faça alguma coisa. Pode ser apenas junto aos pais e mães de sua família ou de seu trabalho. Pode ser, também, por lideranças religiosas, que alcançam milhares de pessoas em suas celebrações. Ou por empresas, que falam para seus empregados e colaboradores. Ou, ainda, pelas secretarias, que disseminam a mobilização nas escolas de suas redes. Tenho me emocionado muito com os relatos que escuto e com as ações que vejo em cada viagem que faço pelo Brasil. Sugiro que os interessados consultem nosso site e o blog da mobilização para ver muitos desses relatos. E que façam sua própria escolha. Eu, realmente, não seria capaz de dizer se uma tem mais sucesso do que outra. Os endereços são www.mse.mec.gov.brhttp://famíliaeducadora.blogspot.com.
10. Que mensagem você gostaria de deixar para os mobilizadores de todo o Brasil que acompanham o Blog Educação?
Continuem mobilizando, não se deixem abater por aquilo que vêem como fracasso. A tarefa é árdua, requer esforço e dedicação. Vi muitos mobilizadores do projeto ‘Parceria’ , do Instituto Votorantim, em ação e fiquei também emocionada com o que eles estão fazendo em comunidades tão distantes. Corro o risco de cometer injustiças por não citar outros, mas menciono aqui alguns que eu conheci de perto: Fortaleza de Minas (MG), Conceição da Barra (ES) e Nova Viçosa (BA). Sei que esforços semelhantes estão sendo feitos em vários outros municípios de muitos estados. Enfatizo ainda que basta um pouco de estímulo e confiança na capacidade de nossos jovens em aprenderem, para que eles produzam resultados formidáveis. Vale a pena e o Brasil agradece.
Por Cleide Quinália com colaboração de Rodrigo Bueno / Blog Educação

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