quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Henrique Alves sai em defesa de afilhado político e desafia Planalto.

BRASÍLIA – O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), desafiou nesta quarta-feira o Palácio do Planalto e condicionou, pelo Twitter, a saída de seu afilhado, Elias Fernandes Neto, à comprovação de irregularidades no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Ele argumentou que é preciso a palavra final do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revelado pelo GLOBO com prejuízos na ordem de R$ 312 milhões no órgão. Elias Fernandes é o diretor-geral do Dnocs.

“Com respeito aos que me pediam explicações . Dou essa palavra inicial. Aguardo sereno o julgamento do TCU sobre atuação do Dnocs. Apenas isso”, postou o líder no microblog.
Henrique Alves, à noite, negou que estivesse ameaçando o governo, mas manteve o tom de desafio:
- Quando Fernando Pimentel ficou na vidraça, a Dilma deu a ele direito de defesa. Eu quero esse mesmo tratamento para o doutor Elias. Não estou desafiando o Planalto. Eu me disponho a ir ao TCU pedir urgência para avaliação do caso do Dnocs. Não seria justo ter demitido Fernando Pimentel, Fernando Bezerra nem Paulo Bernardo por causa de suspeitas. Dilma fez certo nesses casos, pois é uma questão democrática dar direito ao contraditório. Tirar o doutor Elias neste momento, mesmo dentro do processo de reestruturação, vai parecer uma condenação por desvios de 300 milhões. Isso é um absurdo.

Dilma já avisou que só aceita saída
A tentativa de uma solução negociada para a saída de Elias acabou em impasse na noite desta quarta-feira. Segundo relatos, numa reunião no gabinete da Vice-Presidência, no Planalto, com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o vice Michel Temer, o líder Henrique Alves foi direto e, de forma exaltada, avisou: só aceita tirar Elias depois de uma posição oficial do TCU sobre o relatório da Controladoria Geral da União que aponta irregularidades que somam R$ 312 milhões na gestão do Dncos.
- Admito a mudança de gestão do Dnocs. Mas não aceito que essa mudança seja feita sob suspeita - disse Henrique Alves, segundo relatos.
O Planalto não aceitou a proposta. Pelo argumento de Henrique Alves, o TCU daria posição em até 90 dias. Para o governo, a análise das contas do Dnocs levaria pelo menos um ano. Depois da reunião, Temer ainda recebeu em seu gabinete a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati.
Na reunião, Ideli disse ao vice que não era possível manter Elias Fernandes. Segundo interlocutores, a presidente Dilma Rousseff quer uma solução imediata e deu como prazo até o seu retorno ao Brasil na próxima quinta-feira, dia 2, depois de sua viagem a Cuba e ao Haiti.
A disposição de Henrique Alves de manter o afilhado no governo foi explicitada na manhã desta quarta-feira em mensagens postadas no Twitter logo cedo. Ele condicionou a saída de Elias Fernandes à comprovação de irregularidades no Dnocs, argumentando que é preciso a palavra final do TCU sobre o relatório da CGU, para não fazer prejulgamento do diretor.
"Com respeito aos que me pediam explicações, dou essa palavra inicial. Aguardo sereno o julgamento do TCU sobre atuação do Dnocs. Apenas isso", postou o líder no microblog. E, em seguida, negou que haja fogo amigo (do próprio PMDB) no caso: "Não há fogo amigo nenhum. A CGU é um órgão de assessoramento do governo, que respeito. Mas pode se equivocar também . Vamos às provas".
De acordo com relatos, no encontro com Temer e Bezerra, Henrique Alves negou-se a indicar um nome para substituir Elias Fernandes. Essa poderia ser a solução mais simples para o Planalto. Mas na conversa, Alves foi duro e teria feito um desabafo de que no caso das consultorias do ministro Fernando Pimentel, o tratamento do Planalto foi diferente.
Nesta quinta-feira, o ministro Fernando Bezerra deve ter novo encontro com o vice-presidente Michel Temer para buscar uma saída negociada para o impasse. Ele também deve reunir-se com com o diretor-geral do Dnocs, Elias Fernandes Neto. A Henrique Alves, o ministro lembrou que as mudanças nos órgãos vinculados à pasta, como Sudene e Codvasf, tinham sido iniciadas no ano passado.
Michel Temer foi escalado para conter crise
O vice-presidente da República, Michel Temer, foi escalado pelo Planalto para conter a crise e conduzir o processo de substituição do comando do órgão. Nesta quarta-feira, porém, o Ministério da Integração emitiu uma nota oficial sobre as futuras mudanças nas empresas vinculadas à pasta.

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