Carlos Newton
Como todos já sabem ou de alguma forma estão percebendo, o maior problema do país é o Poder Judiciário. Não somente por sua lerdeza ao julgar, pela corrupção de alguns de seus magistrados ou pelo corporativismo exacerbado que caracteriza a categoria profissional, mas sobretudo por sua omissão no que concerne à impunidade dos poderosos.
Quando se fala nesse revoltante privilégio das elites, estamos tratando do assunto em sua mais ampla abrangência. É que no Brasil, salvo as raríssimas honrosas exceções, os poderosos não são punidos. A começar pelos próprios magistrados. Quase invariavelmente, juiz corrupto não é recebe condenação. O máximo que lhe acontece é ser premiado com aposentadoria antecipada, mas com salários integrais e o direito de seguir trabalhando como advogado e exercendo tráfico de influência nos tribunais.
Políticos e governantes estão no mesmo caso. E jornalistas, também, bastando citar o inacreditável caso de Pimenta Neves, ex-chefe de redação do Estado de S. Paulo, que matou a namorada pelas costas, com dois tiros, um deles na cabeça. Teve a intenção declarada de matá-la, foi homicidio doloso, mas levou 10 anos para ser preso e agora pode ter direito à prisão domiciliar, por ter mais de 70 anos e ser cardíaco, pobre coitado.
Os escândalos no Brasil hoje são virtuais. Circulam na internet, são publicados em jornais e revistas, aparecem nos noticiários do rádio e da televisão. E fica nisso. A perda do cargo foi, até agora, a única punição sofrida pelos seis ministros demitidos por corrupção em 2011.
Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esporte) e Carlos Lupi (Trabalho) voltaram a ter rotina normal enquanto aguardam a conclusão de inquéritos e outras investigações preliminares. Nenhum dos ministros demitidos chegou a ser processado por corrupção ou improbidade administrativa.
Podemos perguntar: “Mas que país é esse, Francelino Pereira?” Porém, ele não irá responder. Está aborrecido porque, em seu caso específico, a Justiça enfim funcionou e ele perdeu a pensão de ex-governador de Minas Gerais, da qual desfrutou por quase três décadas. Mas continua pendurado no erário, como conselheiro da estatal Cemig.
Mas se perguntássemos a Renato Russo, da Legião Urbana, que transformou a frase de Francelino Pereira no refrão de uma das melhores canções de protesto já escritas, ele responderia tranquilamente: “É o país da impunidade das elites. Só é punido quem está fora do andar de cima”.
É verdade. Se o Judiciário atuasse a contento, os outros dois poderes apodrecidos funcionariam melhor, porque governantes e políticos teriam medo de ir para a prisão. Os criminosos do colarinho branco também não aplicariam tantos golpes financeiros. E o Brasil, que será o país do futuro, já seria o país do presente. Sem a menor dúvida.
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