segunda-feira, 11 de março de 2013

ETHOS DO PROFESSOR DE LINGUA PORTUGUESA NA CONTEMPORANEIDADE




Diva Conceição Ribeiro  -  UTFPR    -    CESUPI

Especialista em Língua Portuguesa – UNIOESTE/UNICAMP
Mestre em Educação – Pedagogia universitária – PUC-PR
Doutora em Língua Portuguesa
PUC-SP

O trabalho do professor de Língua Portuguesa alcança índices de fragilidade considerados patológicos nas artes de saber, de compreender, de ensinar e de fazer. As estratégias para esse ensino parecem haver sofrido avarias desconcertantes. Fala-se na precariedade dos resultados alcançados nos objetivos do ensino, das lacunas no repasse das competências linguísticas e no domínio da norma padrão reveladas na produção escrita dos discentes nos diferentes níveis de ensino, cujo insucesso prende-se, em grande parte, à ineficácia da escola pública, esmagada por fatores sociais e políticos que lhe asseguram a incapacidade de ensinar com propriedade.
No mundo contemporâneo, as insatisfações em diferentes esferas educativas corroboram para que esses eventos construam o ethos do professor da disciplina como um ethos mais que ambíguo: indefinível, pois diante da evolução alcançada pela classe, este docente parece não dar conta de seus propósitos.
Frente à vasta produção desenvolvida na área da linguagem, na análise do discurso com Orlandi(1999), Marcuschi(2008), Bagno(2000), nos estudos sobre coerência e coesão de Koch e Lopes(1983) dentre outros e a efetiva ação interdisciplinar nos estudos sobre os diferentes contextos do texto, o resultado de um ensino eficaz longe está de ser concretizado.
A definição sobre a aquisição cognitiva do domínio da norma culta concentra-se, em última análise, em como o aluno escreve, nos domínios de ortografia, semântica e sintaxe, que são os elementos básicos e formadores de um quadro de ensino nos quais os conteúdos deveriam ter sido de competência curricular.
Assim, vale repensar sobre os critérios a serem aplicados sobre o ensino de língua portuguesa e a variação linguística quanto à fala e à escrita, vias que são capazes de incluir ou de excluir o aluno e classificá-lo como capaz ou incapaz no que se refere a ler e escrever.
É necessário, portanto, que o sistema de ensino disponibilize ao corpo discente conteúdos estabelecidos como metas e que sejam estes cumpridos, mas cumpridos de forma organizada, consciente e, sobretudo, com propriedade.
Por propriedade entendemos o que seja adquirido por meio de reflexão, e aplicado na vida prática, de acordo com as circunstâncias. Nesse sentido, valemo-nos do artigo de Cláudio de Moura Castro, publicado na Revista Veja (2002) intitulado O Brasil lê mal. Nesse trabalho, Castro questiona o ensino de ler e escrever, cita países que venceram essas dificuldades a custo praticamente zero e diz: “e não pode ser tão difícil assim. É só querer”.
Essas reflexões de Castro podem ser entendidas como amostras do pensamento da sociedade brasileira. Isto nos impulsiona a rever a História da Educação no Brasil, e, em especial, a História do Ensino de Língua Portuguesa em seus diferentes percursos. Esses conhecimentos são trazidos, dentre outros, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais(1997) e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais(2000). Nos PCN-Ensino Médio: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias(s/d, p.55)  “o ensino da língua materna deve considerar a necessária aquisição e o desenvolvimento de três competências: interativa, textual e gramatical.” Nesse sentido, do ensino ultrapassado pelo tempo à modernidade deve valer o bom senso tanto do sistema escolar quanto do docente em mesclar as diferentes práticas linguísticas em situação de uso, sem priorizá-las, mas disponibilizá-las como ferramentas de uso eficientes para suas finalidades linguísticas.
Os objetivos propostos pelo ensino devem ser alcançados pela conquista de cada aluno e avaliados, também, conforme o desempenho individual. Fique isto bem claro: são resultados alcançados e que devem ter reflexos quando empregados na vida prática. Talvez, este seja um caminho possível dentro do que se espera de uma sociedade democrática, isto é, usar as diferentes linguagens em diferentes momentos e de acordo com a situação de uso, porém sem macular a possibilidade de domínio da escrita na norma culta e, ainda, exercitar as diferentes modalidades linguísticas. É necessário, ainda, rever o conceito de avaliação e conseguir visualizar o processo avaliativo no que se refere a estudos escolares entendidos como os três níveis de funcionamento: Fundamental, Médio e Superior.
É preciso, também, contar com o apoio e sustentação do sistema escolar, nas figuras do diretor, supervisor, orientador e de colegas que atuam em mesmas séries embora em outras disciplinas.
A clareza com a qual forem construídos os objetivos a serem alcançados na disciplina de língua portuguesa, terão, efetivamente, reflexos em outras disciplinas na forma de interpretar textos, de escrever com domínio e propriedade e, sobretudo, ver-se como sujeito no próprio mundo e no mundo de suas ações. Teremos, dessa forma, um aluno sujeito agente de seu próprio existir.



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