quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O povo não acredita mais neste governo, afirma Mário Alexandre

Mário Alexandre

Crédito: JBO
Postado por Bahia On Line

Depois de ter sido o pivô da maior crise político-administrativa da Prefeitura de Ilhéus na atual gestão e se recolher para acompanhar os reflexos das atitudes provocadas por ele nos últimos dias, o vice-prefeito Mário Alexandre quebrou o silêncio. Numa bombástica entrevista exclusiva ao editor do Jornal Bahia Online, jornalista Maurício Maron, Mário Alexandre conta detalhes do que ocorreu no Palácio Paranaguá no dia em que resolveu exonerar, com uma só canetada, os três principais secretários do prefeito Newton Lima.
Na entrevista, Mário Alexandre conta também como foi o reencontro com o prefeito Newton. Diz que se sente mais leve depois do que fez e revela que, na opinião dele, o governo não tem mais jeito. A entrevista concedida no final da manhã desta quarta-feira (28), em sua residência, após exaustivas tentativas frustradas desde que estourou a crise no Paranaguá, é imperdível. Nela, Mário Alexandre fala de tudo. Inclsuive sobre a possibilidade de reaproximação do seu grupo com o ex-prefeito Jabes Ribeiro. Acompanhe.
Que avaliação o senhor faz da atual gestão na Prefeitura de Ilhéus?
Primeiro é preciso relembrar a campanha. Com a nossa soma partidária conseguimos contribuir com cerca de 20 mil votos para a eleição do prefeito Newton Lima. Durante todo este tempo a gente procurou ajustar as coisas, tentou mostrar ao próprio governo que a gente precisava melhorar. E de lá pra cá a gente só viu o governo perdendo o rumo. Tenho há muito tempo me agoniado, mas tentando reerguer o governo apresentando alternativas. Tenho me desgastado pessoalmente e politicamente e ouço sempre o compromisso do prefeito de que as coisas vão melhorar. Desde o início ele diz isso e três anos depois continua dizendo a mesma coisa. A gente tem esperança que as coisas melhorem. Mas é preciso também ter ações para que as coisas melhores. Não adianta só falar. Com a atual situação do governo, e digo que é lamentável pra mim estar dizendo isso, tive que dar um basta. Todo dia, todo ano as coisas vão melhorar, vão mudar pessoas, fazer reforma e nada. Enquanto isso a gente via o povo na rua e os meus amigos de infância me dizendo “Mário, a turma está de cara feia para você”. Eu me sentia acuado. Fiz parte do governo durante três anos na tentativa de fazer o melhor para Ilhéus.
Não há mais no que acreditar?
O povo não acredita mais neste governo. Pode vir agora um milhão de obras, pintar rua de ouro por causa de campanha. O povo está tão triste, tão chateado, que é difícil você reverter a situação.
"Tenho me desgastado pessoalmente e politicamente e ouço sempre o compromisso do prefeito de que as coisas vão melhorar. Desde o início ele diz isso e três anos depois continua dizendo a mesma coisa."
O principal motivo da crise administrativa e política do prefeito foi o fato de o senhor exonerar três homens da confiança dele?
Não foram só as ações das exoneraçõesda sexta-feira. Em 15 dias quer fiquei no cargo procurei fazer o que a população sempre pediu. Por exemplo: determinei que se contratasse uma auditoria externa para avaliar a folha de pagamento do município. Isso é extremamente importante para a gente saber onde e com quem está sendo gasto o dinheiro público com salário. Será que todo mundo que recebe está realmente trabalhando? Isso é uma importante questão de gestão administrativa. É preciso enxugar a folha e este é um processo que vem se arrastando desde o início do governo e ninguém toma uma providência. Pelo contrário: a folha só vem aumentando.
O que o senhor queria, de fato, com as exonerações?
Queria mostrar a realidade. Sempre tive vontade de fazer um governo melhor mas nunca consegui e nem consegui influenciar pessoas que pudessem fazer. No momento em que estive com a caneta na mão, cabia a mim decidir. A caneta do vice, em condições normais, não funciona, não tem tinta. Então aproveitei que estava no cargo e fiz.
"A gente via o povo na rua e os meus amigos de infância me dizendo ´Mário, a turma está de cara feia para você´. Eu me sentia acuado."
Como foi o reencontro com o prefeito depois disso? Como foi olhar cara-a-cara para ele?
Pedi licença ao pessoal e conversei pessoalmente com ele. Já tinha avisado, por telefone, que tomaria algumas medidas administrativas. O procurei e disse: o que fiz foi para o bem do governo, com compromisso e não foi influenciado por ninguém. O que fiz era o que o povo estava pedindo. Se você achar que foi ruim, ande na rua, consulte as pessoas, busque ouvir e procure ver  se as decisões tomadas por mim foram aprovadas ou não pelo povo. E se o povo gostou não há absolutamente nada que te prenda a mantê-la.
E qual foi a reação dele?
Como sempre, ele é muito introspectivo. A gente não espera de Newton nada sobre as reações do que ele vai ou pode falar. A gente nunca sabe muito o que Newton pensa. Mas foi uma conversa tranquiila, sem atrito. Nos respeitamos. O que ele me disse era de que iria dar continuidade na reforma. Mas essas conversas dele já ouço há pelo menos dois anos e a gente sem ver resultados.
"A caneta do vice, em condições normais, não funciona, não tem tinta. Então aproveitei que estava no cargo e fiz."
O senhor pretende continuar despachando no Palácio e mantendo contato com o prefeito e secretários?
Fui eleito pelo povo, continuarei atendendo o povo. Fui eleito como ele foi. Continuarei atendendo e trabalhando. Não foi secretário A, B ou C eleito pelo povo. Eu disse isso a ele. Disse a ele que amizade é uma coisa e política é outra.
O que mudou na relação com as ruas depois disso tudo?
Hoje ando na minha cidade de cabeça erguida. Tenho visto que as ações que tomei foram benéficas para o povo. O povo anda grato.
Se sente, digamos, "mais popular"?
Voltei a ser chamado de Marão, a ganhar abraço. Antigamente, há dois meses, eu andava e o povo fehava a cara, com um olhar diferente. No início nem estava entendendo o porquê. Depois caiu a ficha e fui perceber que estava caminhando na contramão do povo e em direção ao governo está indo para o buraco.
"Hoje ando na minha cidade de cabeça erguida. Tenho visto que as ações que tomei foram benéficas para o povo. O povo anda grato."
Você acha que, de alguma forma, Newton Lima te ouviu? Carlos Freitas não retorna e Jorge Bahia está fora das Finanças.
Ele demonstra que não concordou com as alterações que fiz ao exonerar o secretário de Ação Social, indicação nossa.
"Caiu a ficha e fui perceber que estava caminhando na contramão do povo e em direção ao governo está indo para o buraco."
Falando em Ação Social, o senhor é acusado de ter nomeado, ao apagar das luzes, mais de 30 servidores para a pasta, que, até então, era comandada por um indicado da deputada Ângela Sousa, sua mãe...
... Existem trabalhadores dos Programas Sociais. Peti, Creas, todos os programas que atendem as comunidades carentes. Essas pessoas estão trabalhando há mais de 60 dias sem receber salário, por que não haviam tido os contratos temporários assinados por Newton. Trouxe para casa para assiná-los. São indicações de vereadores, prefeito, secretários e minhas também. Como prefeito interino assinei para que os trabalhadores pudessem receber ao que já tinham direito. Foi o que fiz. O secretário-primeiro-ministro já deve ter estado na secretaria para fazer o levantamento...
Quem é esse influente líder do governo?
...Todo mundo sabe, rapaz. É Jorge Bahia. É ele quem realmente comanda o governo. E o povo não votou nele para isso. O povo votou em Newton Lima e eu disse isso sempre a ele. Bahia foi uma indicação, inclusive errônea, feita por mim para a chefia de Gabinete. Eu liguei da minha casa para Newton, pedindo umas vaga para Jorge Bahia na Prefeitura. Ele até ficou com dúvidas se acatava ou não minha indicação.
Para setores do governo, o senhor agora é visto como traidor. Se sente assim?
Três anos de fidelidade. Três anos sofrendo desgaste, três anos conversando com Newton. Eu poderia ter saído há muito mais tempo por que o povo já estava me pedindo e eu sempre segurando, o defendendo publicamente. Chegou a surgir boatos algumas vezes, dizendo que eu estava querendo derrubá-lo, trair. Nunca passou isso por minha minha cabeça. Na verdade o que a gente queria era que Newton melhorasse o governo, fizesse a reforma e atendesse as necessidades do povo mais carente. Newton é uma pessoa de bem. Agora, politicamente, resolvi dar um basta. Falei isso pra ele. As reformas que fiz foram combinadas com o povo.
"(Jorge) Bahia foi uma indicação, inclusive errônea, feita por mim para a chefia de Gabinete. Eu liguei da minha casa para Newton, pedindo umas vaga para Jorge Bahia na Prefeitura. Ele até ficou com dúvidas se acatava ou não minha indicação."
Há quem diga também que o senhor tenha sido manipulado por Alcides Kruschewsky, presidente do PSB, que defende a expulsão de Newton da sigla.
Não teve nenhum tipo de influência. Mas conversei com partidos. Conversei e continuo conversando. Em breve terei uma audiência com o governador para falar sobre Ilhéus.
"As reformas que fiz foram combinadas com o povo."
O senhor é pré-candidato a prefeito. Na campanha, vai subir no palaque de oposição ao governo que o senhor será vice até o fim?
Vai depender da questão partidária. Hoje me defino, até por que ele já tomou medidas retaliativas, como oposição a Newton. Agora é uma questão partidária. Até por que não sei para onde ele vai: se fica no PSB ou vai para o PT.
Se errou, onde Newton errou, na sua opinião?
Ele errou em acreditar nas pessoas em que realmente não mereciam confiança. Ele perdeu um pouco o comando, as rédeas do município. Com os secretários mais fortes, Newton não tinha força. Os caras não faziam o que ele queria. Eu via a boa vontade de Newton para acertar. Ele tentava fazer e os secretários bloqueavam. Não são todos. Tem gente comprometida. Mas muitas agiram assim.
"Neste momento não teve nem traidor, nem traído. O que tivemos foram posições. Posições que eu tomei. E posições que ele tomou."
Afinal, qual era o tamanho da força que o seu grupo político tinha na administração Newton Lima?
Se você comparar hoje a ida do PT, que foi oposição, para a base aliada, com um grupo que somou 20 mil votos para elegê-lo, verá que minha força não era tão grande. Hoje o PT está com quatro secretarias. Eu tinha realmente a secretaria de Assistência Social. Mas dividida. Não era uma secretaria fechada para o grupo da deputada. No início, tínhamos acordado duas secretarias. Eu iria para a Saúde. E abri mão. Ele me pediu por que vinha bem com Marleide (Figueiredo). Para não atrapalhar, eu cedi, abri mão.
O senhor não se acha um traidor. Mas se vê como um traido?
Neste momento não teve nem traidor, nem traído. O que tivemos foram posições. Posições que eu tomei. E posições que ele tomou. Eu tinha comigo o compromisso de mostrar para o povo de Ilhéus que eu posso fazer uma gestão diferente da que está aí.
Mas em tão pouco tempo? Em 15 dias? O senhor não jogou para a torcida, para fazer média com quem o via como mais uma figura desgastada do governo?
Não. Na verdade o que quis era que ele entendesse que a gente poderia estar voltado para fazer o diferente. Recuperar a auto-estima da população. Ele voltou, antecipou o retorno em uma semana, por orientação do primeiro-ministro, para desfazer tudo o que eu tinha imaginado de bom para o governo.
"A avaliação do governo que também faço parte, é de nota quatro ou, no máximo, cinco. A gestão não anda. O governo não é totalmente desastroso. Mas é um governo que não tem comando e onde a gestão peca por demais."
O grupo do senhor aceita conversar com Jabes? Ele sinalizou para isso.
O que imobiliza hoje a política de Ilhéus é o governo municipal. Não tem abertura para conversar com os partidos. Hoje se você conversa com os partidos para compor o governo, ninguém quer. Ninguém acredita mais no governo. Jabes quer abrir diálogo. Mas a gente nem sabe se Jabes é candidato. Segundo informações ele responde a questões jurídicas que o impediriam de ser candidato. E Jabes não sendo candidato, claro que com o PP a gente tem abertura para conversar, como tem com todos os partidos da base aliada do governador. Agora, quanto mais a gente aglutinar e ganhar a eleição para fazer um trabalho político diferente buscando o melhor para Ilhéus, iremos estar abertos para dialogar. O resto a gente vê o que o povo tem a definir. Mas reconheço que o momento é muito confuso parta o povo.
E sua opinião sobre o PT tão forte no governo?
O PT entra com força no governo. É uma aliança importante, o prefeito Newton Lima e o PT de Ilhéus. Vão estar juntos e, com certeza, sanar todos os problemas de Ilhéus.
Que nota o senhor daria à gestão do prefeito Newton Lima.
Não posso dar nota ao prefeito. Mas a gestão, a avaliação do governo que também faço parte, é de nota quatro ou, no máximo, cinco. A gestão não anda. O governo não é totalmente desastroso. Mas é um governo que não tem comando e onde a gestão peca por demais.

Mário Alexandre

Crédito: JBO

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