Atualizado: 9/9/2011 0:37
Wilson Pedrosa/AE
"Manifestação em Brasília. As irmãs Lucianna (esq.) e Daniella Kalil se dizem apartidárias"
A gente não entende nada de política', avisam as irmãs Lucianna, 30 anos, e Daniella Kalil, 32. Elas montaram uma página no Facebook no começo de agosto e 'bombaram'. Um mês depois, levaram 25 mil pessoas às ruas de Brasília para protestar contra a corrupção e ofuscaram a presidente Dilma Rousseff no desfile oficial do 7 de Setembro. Para elas, não é defeito o desconhecimento detalhado sobre política. 'Não precisa entender de política para saber que falta transparência no Brasil. O povo precisa se mobilizar, ninguém faz nada', diz Lucianna.
As irmãs estão longe da elite de Brasília e dos partidos políticos. Lucianna é autônoma, vendedora comercial e mora de aluguel com o marido. O casal tem uma renda mensal de R$ 6 mil. Daniella não tem emprego fixo, vive de comissões como corretora e mora com a mãe em Sobradinho, periferia do Distrito Federal. Lucianna é mais contida. Daniella, não: 'Eu sou da 'night' (noite)'.
As duas já votaram no ex-presidente Lula, em Marina Silva, no tucano José Serra e em deputados e senadores de PT, PSB, DEM e PSDB. O voto, para elas, é na pessoa. 'Para federal, eu votei no Paulo Tadeu (PT) porque ele ajuda Sobradinho', diz Daniella. Feliz da vida com o sucesso da marcha, ela agora começa a sonhar com a política. 'Estudei com o deputado (Antônio) Reguffe na faculdade e quero entrar no partido dele, nem sei qual é. Qual é?' Reguffe é do PDT.
Orgulhosa dos 3,7 mil seguidores na página pessoal do Facebook, Daniella alerta: 'Quero me engajar. Já estou lendo muito mais. Pesquisei muito no Google sobre política. Estou aprendendo muito'. Lucianna não gostou da ideia: 'Nunca me envolvi e não vou me envolver. Prefiro ajudar na conscientização popular'. Numa coisa as duas concordaram no protesto de quarta-feira: impedir o uso de adereços partidários. 'Mandei abaixar as bandeiras. É um movimento apartidário', diz Lucianna.
A ideia das irmãs de criar a Marcha Contra a Corrupção surgiu dos recentes escândalos envolvendo os Ministérios da Agricultura e dos Transportes, logo após a queda de Antonio Palocci da Casa Civil. 'As coisas precisam mudar. Não precisa entender de política para saber que a Dilma está fazendo manobras nessa faxina', afirma Lucianna. 'Ela está tapando o sol com a peneira.'
Para protestar, as duas montaram então o 'evento' 'Marcha da Corrupção' no Facebook. Em poucos dias, mais de 5 mil pessoas aderiram.
Na semana passada, chegou a 25 mil, mesmo público que, segundo estimativa da Polícia Militar do DF, tomou conta da Esplanada dos Ministérios na quarta-feira.
O estopim para a marcha foi absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) pelos colegas da Câmara depois de ser flagrada recebendo dinheiro vivo do mensalão do DEM. 'Não temos conhecimento de política, mas sabemos que o importante é ter ficha limpa', diz Lucianna. 'A Jaqueline roubou e ficou na Câmara porque não era deputada na época. E aí?'
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