terça-feira, 23 de março de 2010

Cozidos no mesmo barro.

22 de março de 2010.

*Elias Reis

Conheço uma jovem, por sinal simpática, que passa quase todos os dias em frente ao meu local de trabalho. Ela me acena e eu respondo. Não sei o nome dela. Sei apenas que carrega no colo uma criança - sua filha, que aparenta três anos -, portadora de Síndrome de dawn - trissomia do cromossomo 21. Não bastasse a síndrome, a criança também é portadora de paralisia infantil aguda, que lhe causou seqüelas dos membros inferiores. Ela me parece uma moça alegre, embora imagine o peso de seu sofrimento. Fatos assim fazem a gente parar e se perguntar: qual será a intensidade do amor daquela mãe por sua filhinha? Com certeza, ela devota àquela criança fisicamente deformada um amor maior do que se a criança fosse, digamos, perfeita. É fácil imaginar o motivo: um filho imperfeito precisa mais do amor do que qualquer outro, embora ninguém neste mundo possa prescindir desse sentimento.

Infelizmente, a maioria de nós não age como deveria em relação aos diferentes. As demonstrações de aversão, repulsa, preconceito ou intolerância às pessoas com alguma diferença são explícitas no dia-a-dia. Nota-se a discriminação nos ônibus, na rua, na escola, no trabalho. Isso por que a maioria acha mais confortável se relacionar com pessoas iguais. Evitam os diferentes como estes tivessem uma doença contagiosa, algo que grudasse na pele, quando são justamente essas pessoas que devem ser amadas - não falo em ter dó ou piedade, mas amor. Tais criaturas, filhas de um único Pai, o Deus do amor, devem ser amadas não apenas pelo criador, que já as ama de modo especial, mas pelos seus semelhantes.

Nós, muitas vezes é que somos o verdadeiro mongolóide, doentes, retardados, aleijados. Incapacitados de amar, que pensamos apenas no Ter, vivendo sob uma capa de mediocridade e vaidade. Raramente pensamos no próximo, mesmo que mais próximo. Vivemos na onda da farsa e da fé individualista, egoísta -, desprezando o Ser.

Deus fez toda a humanidade à sua imagem e semelhança, incluindo os diferentes, estes, talvez, sejam até mais semelhante a Deus do que os ditos perfeitos. Contradição? Creio que não. Deus tem lá suas próprias razões. Nesse caso, em particular, até posso imaginar quais foram: mostrar a nós que, perante ele, fomos todos cozidos do mesmo barro. Afinal, seria uma presunção e tanto determinar que só um certo padrão de seres humanos foi feito à imagem de Deus. Se bem que já tentaram... Na Alemanha, na primeira metade do século passado, quiseram impor este pensamento à humanidade e morreram mais de 50 milhões de pessoas.

“Pôr em situação de igualdade com um diferente é o mínimo que se espera de uma boa pessoa”.

(Ângela Sousa, evangélica e dep.estadual, no Programa História Eletrônica, em setembro de 2009).

Tratar os diferentes da mesma forma com que tratamos os iguais é um princípio humano, quando não lógico. Até porque, pensando bem, não existe neste mundo, uma pessoa rigorosamente igual à outra. Todos, nós, de alguma forma, temos nossas diferenças e imperfeições. Diante de nossas limitações, que possamos refletir sobre os nossos agir. Como olhamos para o outro; como pensamos sobre o outro; como agimos com o outro.

Que critiquemos menos. Que possamos ver as virtudes do outro, invés dos defeitos. Apenas defeitos.

*Elias Reis é Radialista, Articulista e Presidente do

STERT- Ilhéus.

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