sexta-feira, 12 de março de 2010

Ministério Público Federal pede libertação de índio preso pela PF

Meire Oliveira, do A TARDE


Cacique Babau é conduzido para a cela após depoimento


Luiz Tito / Agência A TARDE
Cacique Babau é conduzido para a cela após depoimento

O Ministério Público Federal vai dar entrada, hoje, no pedido de habeas corpus em favor do cacique tupinambá Rosivaldo Ferreira da Silva, o Babau, na Justiça Federal. O índio foi preso na madrugada de anteontem, em Ilhéus, e permanece detido na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Salvador.

Entidades indigenistas e de defesa dos Direitos Humanos que acompanham o caso, acreditam que a prisão do índio tenha ocorrido de forma ilegal. “A casa dele foi invadida na madrugada diante de sua esposa e do filho de 3 anos que foram ameaçados. Queremos garantir a integridade física de Babau. Ele não é bandido. É respeitado por várias entidades e por outras lideranças”, afirma Marta Timon, coordenadora-executiva da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí-BA). Ela argumenta ainda que a Associação Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro é referência de gestão e produção de alimentos na região.

Garantida a liberdade do cacique, o Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM) deve entrar com pedido de inclusão de Babau no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos. “A nossa posição é repúdio à prisão. Estão criminalizando o movimento em prol de toda uma comunidade que luta por direitos legais”, afirma o vice-presidente do GTNM-BA, José Antônio de Carvalho.

Rosivaldo saiu de Ilhéus por volta das 16h30 de anteontem e chegou em Salvador, às 23h30. Segundo a indigenista Marta Timon, os policiais invadiram a casa do cacique sem se identificar ou apresentar o mandado de prisão. “Por isso ele reagiu e, depois, se rendeu quando eles resolveram dizer que eram policiais. A casa dele foi destruída”, contou. Até o final da manhã de ontem apenas o Ministério Público Federal e uma advogada do GTNM tiveram acesso ao índio. Como resultado da luta corporal que travou com os agentes da PF, Babau está com ferimentos por todo o corpo. Com um hematoma no olho direito era impossível abrir a pálpebra e fortes dores - próximo à região do rim esquerdo, o impediam de sentar.

Outro ponto levantado pela defesa do índio é o fato dele ter sido retirado de casa por voltas das 2h30 da madrugada e só ter chegado na delegacia de Ilhéus ao amanhecer, por volta das 6h30. “O trajeto é feito em meia hora. Não tem justificativa. Passamos a noite inteira angustiados. Sem saber se ele estava vivo ou morto”, desabafou Marta Timon. Em depoimento prestado na Procuradoria da República, em Ilhéus, Rosivaldo contou que após sair de sua casa a guarnição que o prendeu parou no posto Flecha, onde os policiais lancharam. Depois o veículo foi estacionado num pátio onde havia caminhões desativados e guinchos onde permaneceu até amanhecer.

De acordo com o superintendente da PF, José Maria Fonseca, Rosivaldo foi indiciado em seis inquéritos. Na lista de crimes estão ameaça, tentativa de homicídio, lesão corporal, formação de quadrilha, incêndio criminoso e outros. “Ele age como bandido. Há indícios de que pessoas estão desaparecidas por conta de suas ações. Das 11 comunidades que vivem lá, oito não apoiam ele. Nem se tem certeza de que ele seja índio”, disse. A PF não respondeu sobre a demora do trajeto entre a casa do cacique e a delegacia, em Ilhéus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oposição versus situação: o cenário político em Ilhéus

  Por Jamesson Araújo do Blog Agravo. A disputa eleitoral em Ilhéus está pegando fogo! Em 2020, já tínhamos uma ideia clara de quem seriam o...